O desvio do viaduto

O desvio do viaduto

A primeira vista, a foto parece retratar apenas uma cena que se tornou corriqueira na grande maioria das cidades brasileiras. Trânsito que não anda, congestionado pela grande quantidade de carros, irritação e um tempo de vida precioso desperdiçado, principalmente, nas horas de pico. No entanto, um olhar mais atento para essa paisagem revela que os vários pontos de estrangulamento da mobilidade demonstram que a cidade cresce à revelia, sem um planejamento urbano, consistente, de longo prazo. À medida que o tempo passa e a população aumenta, essa situação só tende a piorar. A sociedade assiste a um colapso de suas ruas e avenidas. Logo, logo, um estacionamento será uma mina de ouro. Diariamente, ônibus, ciclistas e motoristas se atropelam por vias estreitas, elevando as estatísticas dos acidentes de trânsito com um pesado custo à sociedade.

Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) atualizou o cálculo da população de Ribeirão Preto que chegou aos 666 mil habitantes com endereço na cidade. Nessa conta não estão incluídas as pessoas de cidades próximas que trabalham, estudam, buscam serviços e opções de lazer. A grande maioria desses visitantes diários também utiliza o veículo particular como meio de transporte. A estatística do Departamento Nacional de Trânsito (Detran) revela que o município já possui quase 500 mil veículos registrados, incluindo carros, motos e caminhões. Falta pouco para que a cidade alcance a expressiva média de um veículo por habitante. Hoje, esse índice está em 0,75%.

Nos próximos anos, o panorama desse trânsito que não flui tende a ficar cada vez mais complicado, embora, nesse quesito da mobilidade urbana, a cidade registre avanços importantes. O mais recente deles foi a construção do trevão, com custo de R$ 120 milhões, que desafogou a circulação pelo anel viário e dará um fôlego para o entorno da cidade durante alguns anos. Há dois anos e meio, em dezembro de 2012, foi inaugurado o viaduto da avenida Henry Nestlé, que beneficiou cerca de 100 mil moradores da zona leste da cidade a um custo de R$ 23 milhões. Sem o aprimoramento do transporte coletivo e a implantação de alternativas, a cidade está fadada a construir viadutos por todos os lados a um custo milionário? No passado, os gargalos apareciam lentamente. A foto que ilustra este texto mostra o trânsito congestionado na avenida Braz Olaia Acosta, única passagem para atender um novo vetor da expansão imobiliária em direção ao sul, além do anel viário, que inclui o Shopping Iguatemi e novos condomínios e prédios residenciais. Se o planejamento urbano da cidade para os próximos anos estiver calcado unicamente na construção de viadutos para resolver o problema do trânsito, a cidade precisará de uma enorme influência política para obter milionárias verbas estaduais e federais em um período em que o Estado brasileiro mergulha numa crise profunda.

Recentemente, ganharam visibilidade as reclamações sobre o trânsito da avenida Niterói e a reivindicação dos moradores do Ribeirão Verde que pedem a duplicação da avenida Antonia Mugnatto Marincek. Não existem alternativas para melhorar a mobilidade urbana? Estamos fadados a correr desesperadamente atrás de verbas, cada vez mais escassas, para construir megaviadutos? Se um único viaduto custa em média R$ 25 milhões, quatro custarão R$ 100 milhões. Com esses recursos não é possível implantar um sistema coletivo de transporte eficiente? A cidade possui escolas de engenharia e arquitetura e entidades especializadas em planejamento, mas não tem um projeto elaborado de forma conjunta e nem planejamento que projete sistemas de transporte alternativos. Essa falta de planejamento já está impactando negativamente a qualidade de vida dos ribeirãopretanos.

Compartilhar: