
O fim da tranquilidade
O crescimento das ocorrências fez com que Ribeirão Preto perdesse aquela tranquilidade típica do interior e alcançasse um nível de violência proporcional e semelhante ao das grandes capitais. Quem ainda não percebeu essa mudança, corre sério risco. Basta ver que está cada vez mais difícil encontrar um ribeirãopretano que não tenha sido assaltado. No mínimo, tem um amigo ou um parente próximo que já foi vítima da violência.
Hoje, mesmo à luz do dia, ruas e avenidas de Ribeirão Preto são inseguras, tanto para quem anda de bicicleta ou de BMW. Na ação que se tornou a mais comum, os ladrões rendem os moradores quando estão chegando à residência. Por causa disso, milhares de imóveis de boa qualidade e localização estão à venda. Nos bairros da periferia, a violência é maior ainda. Desde o ano 2000, mudar para condomínios ou apartamentos virou o sonho de consumo da parcela da população com maior poder aquisitivo.
Diante da fragilidade da segurança oferecida pelo Estado, quem decidiu permanecer exposto à violência das ruas teve que absorver mais um custo, além do alarme, da cerca elétrica, do seguro e das câmeras de vigilância. Cidadãos comuns e empresas estão sendo obrigados a investir na segurança privada. Além disso, para preservar a sua integridade, da sua família e não ser a próxima vítima, daqui para frente, o ribeirãopretano terá de ficar “meio neurótico” com a segurança. Isso implica numa mudança de comportamento quando sai para a rua ou fica em casa. Mesmo nas horas de lazer, seja numa caminhada durante o dia ou numa saída noturna, é preciso estar sempre atento à movimentação do entorno para não ser surpreendido pelo assustador bordão que já se tornou corriqueiro na cidade: “perdeu mano, perdeu”. Quem gosta de dar uma volta de bicicleta, tem 90% de chances de voltar a pé para casa.
Esta semana, os meios de comunicação da cidade divulgaram com destaque o balanço das estatísticas de 2013 que podem ser comparadas com anos anteriores. O gráfico mostra que em 2001, por exemplo, ocorreram 14.610 homicídios, furtos e roubos de objetos e de veículos. Em 2013, esta estatística subiu para 20.705, um aumento de 40%. O índice de crescimento da violência em Ribeirão Preto já supera o da Capital. No ano passado, foram registrados 4.297 furtos e roubos de veículos. A média dessa “indústria” é de 11 carros surrupiados por dia com ou sem coação. Nos últimos quatro anos, essa atividade criminosa cresceu 45%.
Embora seja um problema nacional, a violência urbana varia de município para município. Uma cidade é mais violenta que outra. Portanto, há espaço para a intervenção pública local em duas frentes. A primeira é a abordagem social para evitar que os adolescentes, por exemplo, ingressem no mundo do crime da forma tão numerosa e tão intensa como vem ocorrendo nos últimos anos. Para isso, é preciso melhorar a rede de assistência social para oferecer oportunidades de educação, cultura, esporte e trabalho. Caso contrário, a delinquência juvenil continuará aumentando. A outra frente de atuação é a capacidade preventiva e repressiva dos órgãos de segurança que já atuam na cidade. O crescimento das estatísticas mostra que essas estruturas estão defasadas em relação a contingentes, a equipamentos e ao uso da tecnologia para combater a criminalidade. A Polícia Militar e a Guarda Municipal precisariam ter o triplo do quadro atual. Para organizar ações mais efetivas no combate à criminalidade, a retomada daquela velha discussão sobre a criação de uma Secretaria de Segurança Pública local viria muito bem a calhar. Enquanto o poder público não for pressionado para mudar essa realidade, o cidadão precisa ficar “esperto”, consciente de que mora numa cidade que não tem mais aquela tranquilidade bem típica do interior caipira.