
O giro da insegurança
Diariamente, a mídia não deixa ninguém esquecer que vivemos em um país, em um Estado e em uma cidade inseguros. As ruas viraram palco de crimes bárbaros. Em Ribeirão Preto, a banalização da violência faz com que a população se sinta insegura diante da incapacidade do Estado de oferecer tranquilidade aos seus moradores. Mata-se por pouco e os criminosos ficam impunes. O responsável pela morte do garoto Marcos Delefrate continua foragido. A violência expõe, em graus diferentes, ricos e pobres, mas todos estão na linha de tiro, dos frequentadores dos shopping centers aos clientes dos postos de gasolina.
Em Ribeirão Preto, há centenas de ótimas casas à venda em bairros nobres. Desde os anos 90, quando os índices de violência explodiram, a população de maior poder aquisitivo migrou para prédios de alto padrão e condomínios fechados. Não queria mais correr o risco de bater de frente com a criminalidade na porta de casa. Quem não fez essa mudança, tomou suas providências instalando câmeras, alarmes e contratando empresas de vigilância. Hoje, uma rua ou avenida segura em Ribeirão Preto é aquela em que moradores se cotizam e pagam guardas para vigiar dia e noite. Fora disso, não há segurança, ninguém mais confia no Estado.
Na periferia, a desproteção é ainda maior. A propósito deste tema, o exemplo ilustrativo aparece nas escaramuças entre a Prefeitura de Ribeirão Preto e o governo do Estado, envolvendo a Polícia Militar e a Polícia Civil. Nos últimos meses, moradores do Complexo Ribeirão Verde denunciaram que estavam sendo vítimas de furtos e de assaltos frequentes. Uma reportagem de TV mostrou que um comerciante passou a dormir no chão da própria loja para vigiar o estabelecimento. Os comerciantes deste e de muitos bairros pressionaram a prefeita Dárcy Vera, que por sua vez cobrou a Secretaria de Segurança Pública. Nesse ponto, surgiu uma diáspora entre a Prefeitura e o Estado. A prefeita Dárcy Vera queria a instalação de uma base da Polícia Militar, enquanto a PM argumentava que a construção do prédio não significava, necessariamente, um reforço da segurança que poderia ser melhorada com a circulação ostensiva das viaturas nos bairros com maior número de ocorrências. Houve até um entrevero público entre o comandante do CPI 3, José Roberto Malaspina, e a prefeita Dárcy Vera.
Depois de um cabo de guerra com muito estica e puxa, o novo secretário de Segurança, Fernando Grella, confirmou que a Polícia Militar e a Polícia Civil reforçariam a atuação no Complexo Wilson Toni, Campos Elíseos, Paulo Gomes Romeo, Jardim Procópio (Parque Tom Jobim), Jardim Aeroporto, em 17 bairros da região leste e no Complexo Ribeirão Verde, região em que a situação se apresentava como mais crítica. Cumpriu-se o prometido. No final de semana passado, o Ribeirão Verde amanheceu sob o estado de sítio com todas as saídas bloqueadas. Um piscineiro que tinha comprado um carrinho velho para trabalhar teve o veículo apreendido porque não tinha carta de habilitação. Outras apreensões foram feitas, mas nada que vá mudar o panorama da violência desses bairros e da cidade. Essas ações ostensivas da Polícia são positivas, tiram criminosos de circulação, amenizam a situação, mas não resolvem o problema.
Para que a segurança de uma cidade melhore de fato é preciso bem mais do que isso. Torna-se imperioso uma política consistente e não ocasional. Há que se investir em equipamentos, melhorar os salários dos policiais e aumentar o efetivo. Sem isso, as ações extemporâneas até servem para dar uma satisfação à comunidade, mas nem de longe amenizam a situação. Vale mais como marketing do que como resultado. A Prefeitura de Ribeirão Preto investe na manutenção de uma Guarda Municipal, já criou e extinguiu secretarias, mas até hoje não se discute a criação de uma pasta que possa articular uma política conjunta com os demais órgãos. Enquanto isso não ocorre, o cidadão que paga altos impostos para ter segurança fica assistindo a troca de farpas entre governantes, uma queda de braço que não leva a nada. Esse foi um dos motivos pelos quais, recentemente, o povo saiu às ruas.
Murilo Pinheiro
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