
O Inimigo Comum
A assustadora pandemia provocou consequências inimagináveis. As ruas das grandes cidades do mundo parecem cenários de filmes de ficção. Governos de vários países fecharam as fronteiras. A crise na saúde mundial trouxe consigo efeitos que serão dolorosos, mas também deixará algumas lições. A principal delas andava meio esquecida numa época de tantos avanços tecnológicos e descobertas científicas. Apesar do empoderamento natural que a própria evolução possibilita, o ataque do minúsculo agente pode ser fatal para o ser humano. Dessa forma inesperada, a pandemia expõe de forma clarividente a fragilidade da natureza humana. Para completar, a ínfima criatura segue a lógica perversa do parasita. Como não tem metabolismo próprio, se locupleta no corpo alheio ao se hospedar na célula humana.
Quando situações inusitadas assim acontecem, o pânico corre solto em meio a uma grande boataria, às notícias falsas, às mensagens alarmistas, apocalípticas, às teorias conspiratórias, aos depoimentos despreocupados e aos avisos sensatos. Fica difícil mesmo separar nas redes sociais as mensagens de fundamento e do achismo desenfreado. De uma hora para outra todo mundo vira médico especialista em epidemiologia com doutorado em vírus para dar receitas e estabelecer padrões de comportamento. Por conta do Aeroporto Internacional de Guarulhos, onde chega a maioria dos voos internacionais, inicialmente, São Paulo foi mais afetado pela epidemia que logo se espalhou para o Rio de Janeiro e outros estados. Quem coordena o comitê para a crise do coronavírus criado pelo governo de São Paulo é o médico infectologista, David Uip, considerado um dos maiores especialistas em doenças infecciosas. Embora tenha reconhecimento internacional e seja eficiente para resolver a grande maioria das doenças, o Sistema Público de Saúde (SUS) tem limitações para suportar um grande número de pessoas doentes ao mesmo tempo. Em grau diferente, o mesmo ocorre na iniciativa privada. Como não existe vacina e nem tratamento para o Covid-19, a interrupção do contágio é o único remédio viável para conter a escalada do vírus.
Daí a necessidade do isolamento. As pessoas devem evitar as aglomerações e colocar em prática as recomendações de higiene recomendadas pelos órgãos de saúde. Logo que o alarme soou, com raras exceções, a sociedade entendeu a gravidade do recado, tendo em vista o que ocorreu na Itália e em outros países. As universidades fecharam, as aulas na rede pública foram suspensas, shows e espetáculos tiveram que ser cancelados. As empresas reduziram as atividades, possibilitando que parte dos funcionários trabalhe em casa. Os órgãos públicos paralisaram as atividades e grandes eventos como a Agrishow foram adiados. Numa visão pessimista, todas essas medidas ainda serão insuficientes para conter a escalada do vírus que provocará consequências catastróficas. Esse seria o pior cenário com um grande número de casos e um número elevado de óbitos. Na visão otimista, não será possível conter a transmissão do vírus, mas as medidas que estão sendo adotadas evitarão que ocorra uma explosão de casos muita acima da capacidade de atendimento da rede hospitalar pública e privada. Assim, nos próximos dias, o número de casos tende a crescer, mas o que se espera é que esse pico não seja muito elevado, nem demore muito a cair. Os primeiros óbitos no Brasil comprovam a gravidade dessa pandemia.
Embora essa seja uma enfermidade nova, a forma de combater é bem antiga e conhecida da população. Tem o mesmo fundamento do combate de outras doenças contagiosas como a AIDS, a dengue e as várias espécies de gripe. Há uma regra simples que precisa ser seguida por todos para que se fechem os canais de contaminação. Cada pessoa pode ser um vetor de transmissão da doença. Por isso, tem uma obrigação ética e moral consigo mesma e com todas as pessoas que estão no entorno. Quem cuida bem de si mesmo também está preservando os outros. Fica registrada aqui uma menção especial a todos os profissionais da saúde que precisarão enfrentar jornadas prolongadas de trabalho e a exposição maior ao risco de contaminação. Em tempos de tanta controvérsia, uma pandemia tão perigosa como essa também pode unir a sociedade contra um inimigo comum.