O mosquito segue fazendo vítimas

O mosquito segue fazendo vítimas

O clichê popular diz que o ano começa depois do Carnaval, embora as avenidas já não tenham tantos blocos como havia antigamente. Quando a folia do feriadão prolongado termina, todo mundo — empresários, empresas, cidadãos e governos — tomam um chá de realidade. Nesse processo de retomada do foco, as pessoas olham seu entorno para tentar entender o que está acontecendo, sem otimismo e sem pessimismo exagerados. Se 2015 foi um ano difícil com uma recessão de 3%, a cara de 2016 não é das melhores. Na área econômica, Ribeirão Preto começou o ano com a surpreendente notícia do fechamento de estabelecimentos comerciais tradicionais e até de grandes supermercados. Isso dá uma ideia da dimensão da crise, pois mesmo empresas que trabalham no ramo de alimentos, essenciais às camadas de baixa renda, estão fechando as portas. Quem dá uma volta pelo centro de Ribeirão Preto sai com a sensação de que a grande marca comercial da cidade, no momento, é o “aluga-se”. Uma boa parte dos prédios, que em um passado não muito distante era ocupada por empresas, agora está disponível para locação.

Apesar da adversidade, as crises costumam ser passageiras e essa também haverá de ser superada, mas todos os períodos de retração econômica deixam marcas indeléveis, ou seja, sinais que não se apagam mais. Os anos de estagnação ou de recessão entram na contabilidade da história como anos perdidos, aqueles que não se recuperam mais. Outro adágio popular, muito em voga, revela que nada é tão ruim que não possa piorar. No universo de Ribeirão Preto, pior que a situação da economia é o estado atual da saúde. Hoje, o ribeirãopretano que olha em sua volta fica com a malévola sensação de que a sua vida e a dos seus familiares corre risco. A epidemia de dengue explodiu e o zika vírus ameaça, principalmente, a saúde dos bebês.

Em janeiro, a Secretaria Municipal da Saúde confirmou 1.557 de dengue, mas esse número deve crescer. Tem tanta gente doente que falta estrutura para realizar os exames com rapidez. No primeiro mês do ano, foram mais de 9.000 casos de dengue e 430 de zika suspeitos. Somando as duas doenças é o pior janeiro dos últimos seis anos. Em janeiro de 2011, ano em que a cidade teve um total de 23.884 casos confirmados, houve 976 registros. Com os 1.557 casos de janeiro, a projeção sombria indica que até maio a cidade deverá ter entre 50 e 60 mil pessoas contaminadas pela doença, cerca de 10% da população. Os picos deverão ocorrer em março e em abril. Alguns infectologistas afirmam que os casos de zika estão subnotificados e que no decorrer do ano devem ultrapassar os registros da dengue. O Hospital das Clínicas confirmou 11 casos de zika vírus em mulheres grávidas. Mais de 140 casos foram confirmados clinicamente pelos médicos.

Nem é preciso se basear nas estatísticas, basta olhar em volta. Com a epidemia fora de controle, todo mundo conhece alguém ou tem algum parente que foi vítima da doença. No estágio atual da saúde em Ribeirão Preto, a palavra vítima traz consigo o seu pior e mais perigoso sentido. Mesmo sem a confirmação de exames laboratoriais, a dengue começa a fazer vítimas fatais. Nos últimos 45 dias, pelo menos quatro pessoas morreram em função da doença. No caso mais recente, uma mulher que já tinha sido vítima da dengue, morreu ao contrair a doença novamente. Esta é uma preocupação a mais para os moradores de Ribeirão Preto. Desde 1990, a cidade vem registrando epidemias e um alto número de casos. Daqui a pouco será difícil encontrar alguém que ainda não tenha sido vítima de uma dessas doenças. O contraditório é que nem as mortes e o assustador número de casos são suficientes para mudar a atitude de uma parcela da população que continua com um comportamento passivo. Esses moradores agem como se os criadouros do mosquito, dentro das suas residências, não fossem um problema seu. Embora o poder público tenha a sua parcela de culpa, o combate aos focos do aedes aegypit dentro das casas é uma responsabilidade da qual nenhum cidadão pode se eximir. Quem fica indiferente ou se aliena em relação a um problema de saúde pública também pode entrar para essa macabra estatística. 

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