O pai da bomba

O pai da bomba

Quando a gente pensa que não tem mais novidade ou algo interessante para contar, vem um diretor de cinema e surpreende. No jargão popular, “rouba as fichas” com um filme surpreendente, original e obrigatório para quem quer refletir sobre os atos humanos e suas consequências. No caso do filme que desde a estreia lota as salas de cinema, candidatíssimo ao Oscar, uma das melhores definições partiu do próprio diretor. Para Christopher Nolan, Oppenheimer é um filme sobre os desdobramentos dos atos humanos, mesmo que eles estejam dispersos no vasto universo dos conhecimentos científicos. 


O físico Julius Robert Oppenheimer, interpretado por Cillian Murphy, tem creditado no seu currículo o título de “pai da bomba atômica”, de acordo inclusive com uma manchete de capa da famosa revista americana “Time”. Pelo número de mortos imediatos, as duas bombas atômicas jogadas pelos americanos, nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, ao final da Segunda Guerra Mundial, figuram na lista das maiores atrocidades já cometidas pela raça humana. Apesar de ser um fato conhecido da história mundial, o diretor se debruçou sobre a minuciosa engenharia de conhecimentos que materializou o mais letal artefato de guerra e que mudaria para sempre o destino da humanidade. Desde então a paz mundial virou uma quimera, uma frase de efeito para compor o discurso cínico de líderes mundiais. O filme mostra que embora Oppenhheimer seja considerado o pai da bomba atômica, a fabricação da arma mortífera só foi possível graças ao somatório de conhecimentos dos mais brilhantes cientistas da época. Até Albert Eistein tangencia a história. Começa pelo conhecimento de materiais radiativos como o urânio e o plutônio até a quebra do núcleo do átomo para gerar energia, calor, uma explosão e a temida radiação. Uma reação em cadeia no menor tempo possível contida numa pequena massa.  


Na história real, o físico Oppenheimer foi diretor do Laboratório Los Alamos, no Novo México, onde os americanos desenvolveram e testaram a arma nuclear.  Como o final da história é conhecido, o filme se concentrou no conjunto de mentes brilhantes capaz de criar uma arma tão mortal para ser usada contra a própria humanidade. No começo até havia uma justificativa plausível. Amparado no conhecimento do prêmio nobel e físico nuclear, Werner Heisenberg, a Alemanha de Hitler poderia fazer a bomba primeiro. No entanto, esse argumento caiu por terra quando o ditador alemão se matou e a Alemanha se rendeu em maio de 1945. Sobrou o Japão que continuava em guerra, mas que isolado não tinha perspectiva de vitória, embora os pilotos kamikazes provocassem um elevado número de mortes na marinha americana. 


Na abertura, o filme menciona Prometeu, o personagem da mitologia grega responsável por roubar o fogo dos deuses e entregá-lo aos homens, causando a ira de Zeus, que o puniu severamente. Com a sua mortífera invenção, Oppenheimer virou uma espécie de Prometeu do Século XX.   Guerra e ética são duas palavras com sentidos antagônicos. A ciência não é neutra e a genialidade não pode ignorar a natureza dos inventos. Por isso, nem as contribuições mínimas para a criação de algo tão destruidor são aceitáveis. A genialidade também se torna submissa aos interesses políticos e militares. Alguns cientistas compreenderam a gravidade da descoberta e se recusaram a compartilhar seus conhecimentos. Mesmo com a iminente rendição japonesa, as duas bombas foram jogadas contra uma população civil indefesa e provocaram mortes horríveis por queimadura. Como a arma atômica virou um símbolo de poder era óbvio que a partir daí muitos países teriam a sua e que história poderia se repetir. Desde então, o mundo inteiro nunca mais conseguiu dormir em paz e o brilhante Oppenheimer foi punido pela história com a pecha de gênio do mal. 

 

Foto: Reprodução 

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