O plano B da água

O plano B da água

Apesar de algumas resistências e das distorções políticas, o debate sobre o abastecimento de água de Ribeirão Preto foi retomado. Um dos temas centrais da eleição para prefeito de 2016, o assunto entrou novamente na agenda municipal por reportagem da Revide e de outros veículos de imprensa. Para atender 700 mil habitantes, o Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto (Daerp) utiliza 120 poços captando 5m³ de água por segundo. No decorrer dos anos, o rico manancial de água potável do aquífero guarani foi rebaixado. Hoje, em algumas regiões, a captação já ocorre abaixo dos 70 metros. Além de revelar que a reposição não é suficiente, o rebaixamento indica que o volume de água disponível está diminuindo.  Qual a reserva de água disponível e até quando ela vai durar? Essa pergunta ninguém consegue responder com precisão, mas pelas leis da filosofia universal, tudo o que não é infinito um dia pode acabar. 

Por isso, a cidade precisa afastar o risco do caos do desabastecimento generalizado em futuro próximo. Nesse aspecto da gestão pública não há espaço para a imprevidência ou a negligência. “É responsabilidade dos gestores das cidades pensar nas futuras gerações e garantir o abastecimento para uma cidade em plena expansão como Ribeirão Preto”, reconhece o prefeito Duarte Nogueira. Por isso, depois de um período de silêncio sobre o assunto, a Prefeitura de Ribeirão Preto se posicionou através de um release enviado aos veículos de imprensa pela Coordenadoria de Comunicação Social. O texto enviado pela Prefeitura confirma outro problema muito grave. Através de um programa de gestão, controle e redução de perdas, o Daerp reduziu as perdas no sistema de abastecimento em 25,3%, de 61,48%, em 2016, para 49,06% em 2020. No entanto, o desperdício de quase 50% significa que de cada dois litros captados um vai fora, uma perda inaceitável do ponto de vista da racionalidade que deve haver no uso dos recursos naturais.

A boa notícia é que a Prefeitura conseguiu recursos para iniciar estudos sobre a viabilidade do aproveitamento da água do rio Pardo para o abastecimento do município. Antes tarde do que nunca diz o velho ditado. Seguindo as recomendações da Agência Nacional de Águas (ANA), o município obteve R$ 3,1 milhões dos quais R$ 2,9 serão financiados pelo Ministério do Desenvolvimento Regional e os R$ 155 mil restantes entram como contrapartida do Daerp. Em 10 anos, a população do município deve chegar a 900 mil habitantes e para assegurar o abastecimento será preciso buscar outra fonte de captação. No longo prazo, os dois sistemas com a captação do aquífero guarani e do Rio Pardo devem funcionar concomitantemente, reduzindo a captação do manancial subterrâneo. Misturada nos reservatórios, a água que chegaria às casas seria uma mescla da água tratada do Rio Pardo e do Aquífero Guarani. 

A má notícia é que esse estudo deve ser licitado no ano que vem, o processo demora pelo menos seis meses. Depois vêm a elaboração do projeto executivo, os estudos de impacto ambiental e a licitação da empresa que executará a obra. Um projeto dessa envergadura demora de 3 a 4 anos com a construção das adutoras, a estação de tratamento e a elevatória. Somados todos esses prazos, sem nenhum imprevisto, a previsão é que algum ribeirãopretano tomará o primeiro copo d´agua mesclado lá por 2030. Apesar do prazo elástico, a teoria da administração ensina que as soluções eficientes, seguras e duradouras implicam em planejamento de longo prazo.

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