O poder das palavras

O poder das palavras

Embora a grande maioria das pessoas considere a comunicação como uma área das ciências humanas que pode ser facilmente decodificada pelo senso comum, na prática, essa interface do relacionamento humano e empresarial acaba se transformando numa grande fonte de conflitos nos relacionamentos pessoais e profissionais. O primeiro passo para ser um bom comunicador, eficiente no envio e no recebimento de mensagens, depende do reconhecimento da complexidade do tema. No meio empresarial, costuma-se observar que a comunicação não tem a ver com o que você diz, mas com o que o outro entente, ou seja, se o outro não entendeu você não conseguiu se comunicar. Um antigo aviso colocado na sala de imprensa do Pentágono nos Estados Unidos esmiúça um pouco mais essa grande dificuldade que o mundo empresarial encontra para compartilhar informações entre funcionários, diretores e os diversos públicos que entram em contato direto com a empresa. “Eu sei que você acha que entendeu o que você pensa que eu disse, mas não estou certo de que você tenha percebido que o que você ouviu não é precisamente o que eu quis dizer.”

Quem pensa a respeito, certamente conhece alguma história de telefone sem fio em que a comunicação saiu truncada. Essa confusão ocorre na Terra desde que Deus entregou ao profeta Moisés as tábuas com os 10 mandamentos. Mesmo assim, ainda tem muita gente que não assimilou o conteúdo. Nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, por exemplo, o polêmico nadador americano, Ryan Lochte, deliberadamente infringiu o oitavo mandamento que qualifica como pecado levantar falso testemunho. Assim, numa visão mais abrangente, os pressupostos da comunicação estão ligados à própria essência humana, ao mesmo tempo em que transpassa a economia, a política, a religião, a educação e o mundo empresarial. Justamente por isso, muita gente tem se dedicado a esse tema, principalmente os jornalistas e os comunicadores. No século em que assumiu o papel massivo e preponderante nas relações humanas, a comunicação desponta como a principal habilidade do cidadão comum, dos profissionais das mais variadas profissões e dos executivos das grandes corporações. 

Dentro das comemorações dos 30 anos, a Revide promoveu uma palestra com dois especialistas da área, o jornalista Milton Jung, âncora da rádio CBN e a fonoaudióloga, Leny Kyrillos, que também possui uma coluna na rádio. Ambos são autores do livro “Comunicar para Liderar”, que faz uma reflexão sobre os desafios para quem precisa comandar equipes. Afinal de contas, se essa habilidade humana está tão valorizada no mundo globalizado, o texto bem escrito e a fala  organizada estão cada vez mais vivos nas mídias antigas, nas plataformas digitais e nas redes sociais. 

A importância da simplicidade do texto aparece no destaque que norteia a introdução do livro. O poema “A ilegível mensagem”, escrito por Mário Quintana que, em 1973, já detectava um desvio que só se acentuou com o passar dos anos. “É tal a sua pressa de comunicação que eles se esquecem de aprender primeiro a expressar-se”. No livro, Lenny e Milton Jung enfatizam a importância da comunicação para que um profissional conquiste seu espaço no ambiente de trabalho. Essa habilidade tem peso fundamental na gestão da informação, liderança, negociação, orientação aos clientes, relacionamento interpessoal (com os outros) e intrapessoal (consigo mesmo) e a tomada de decisão. É preciso ser claro, sem ser agressivo, ser habilidoso para lidar com temas difíceis a ponto de conquistar a empatia dos interlocutores. 

Nas conversas cotidianas, hoje, percebe-se uma tendência de rebaixamento com os diminutivos exagerados, o uso abusivo dos palavrões e a adoção contínua dos cacos e muletas: “tá certo”, “está me entendendo”, “compreendeu”, “né” e “ok”. Ainda tem insegurança revelada pelo “ann” e os intermináveis “é, é, é”. Na comunicação eficaz, o orador leva em conta o interesse do ouvinte, escolhe o momento adequado para falar, usando com clareza e precisão a linguagem verbal e não verbal. Por incrível que pareça, a força da mensagem depende 55% do corpo, 35% da voz e apenas 7% do conteúdo. O professor e linguista brasileiro Dino Pretti bem resumiu a importância da boa comunicação: “toda conversação é uma luta pelo poder. Uma pessoa quer sempre convencer a outra com seus argumentos. Regulamos a nossa linguagem em função do ouvinte”. 

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