O romantismo dos opostos

O romantismo dos opostos

Um filme leve, para descontrair, em tempos de clima pesado, de muita intolerância, racismo, violência e até uma guerra. Baseado na inesquecível música de 1986, do genial Renato Russo, o romântico filme Eduardo e Mônica, homônimo da canção, resgata a importância da generosidade e da empatia com o parceiro na construção de uma relação amorosa. Mesmo com idas e vindas, os opostos podem se atrair ou pelo menos conviver com as diferenças, mesmo que elas sejam profundas e estejam enraizadas. A relação se equilibra quando ambos concordam em ceder. O filme do diretor René Sampaio, lançado no começo deste ano e disponível nas plataformas de streaming, materializa as diferenças de um casal que tenta superar as contradições na forma de agir e ver a vida com o amor de uma relação que tem tudo para não dar certo. No refrão da música ecoa o argumento da história: “quem um dia irá dizer que não existe razão, nas coisas feitas pelo coração”.

 


A rigor, o casal Eduardo e Mônica praticamente não tinha nada em comum a não ser a curiosidade que o estranho mundo de um despertava no outro. Além da diferença de idade, as visões sobre coisas banais do dia a dia eram muito distantes, afinal, “ela se formou no mesmo dia em que ele passou no vestibular”. Mônica investia muito na sua formação cultural, se tornou médica e apreciava a música dos Mutantes, do Caetano e a poesia do simbolista francês Arthur Rimbaud. Já o Eduardo era mais sossegado e não estava muito ligado no mundo cult. Tinha prazeres menos sofisticados, gostava de novela e de jogar futebol-de botão-com o avô. Nesses contrapontos, o filme faz uma politização sutil, sem fugir da essência da letra da música. 

 


Os desencontros dos personagens evidenciam o clássico conflito entre a razão e a emoção, trazendo à tona comportamentos e conflitos que estão muito presentes na vida atual, decorrentes das diferenças de idade, gênero, bagagem cultural, posição política e as experiências de vida. Quando se olha para as diferenças alheias, até com certa dose de humor, fica a sensação de que vida e as suas controvérsias podem ser encaradas com leveza para que o coração tenha alguma chance de sobrepor à frieza da razão. Um filme poético e inspirador para quem ainda acredita nas coisas feitas pelo coração. 

Compartilhar: