O senso do censo

O senso do censo

A divulgação do censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aguça o senso de observação sobre a performance nacional e de cada cidade do país. A interpretação dos dados da pesquisa revela que a pátria amada melhorou, mas que ainda existem graves problemas e desafios enormes a serem vencidos. Fato significativo é que os analfabetos absolutos, aqueles que não sabem ler e escrever, diminuíram para menos de 10%, mas a legião de iletrados funcionais, que não consegue entender um texto básico de jornal, cresceu de forma vertiginosa. Vide os resultados das escolas nos exames de avaliação. 

A maior dissensão do censo, sem dúvida, é a vergonhosa taxa de domicílios no país com rede de água e de esgoto que chega a pífios 55%, ou seja, em pleno Século XXI, o das grandes transformações tecnológicas da humanidade, quase a metade da população brasileira não tem acesso ao saneamento básico. Fora algumas minguadas verbinhas do PAC, não há recursos para investir em saneamento básico, mas o país se prepara garbosamente para jogar no ralo uns R$ 30 bilhões ao financiar a reforma de uma dúzia de estádios de futebol que servirão, cada um, para a realização de meia dúzia de jogos da Copa do Mundo. 

Qualquer cidadão de Ribeirão Preto, minimamente preocupado com a sua qualidade de vida e com o futuro de seus descendentes, pode dar uma espiada na janela para ver quantos buracos tem na sua rua, se faltam árvores ou perguntar para o vizinho ou para o colega de trabalho se ele já melhorou da dengue.

Há décadas sem um planejamento público consistente, os problemas de Ribeirão Preto se agravaram no decorrer dos anos impulsionados pelo crescimento populacional. A cada década, a população da cidade aumenta em 100 mil pessoas. São 10 mil novos moradores por ano que não recebem mais transporte coletivo de qualidade, saúde e educação públicas condizentes. Por aqui, há anos vigora a versão clássica do “Laissez-Faire” em que o poder público se omite das grandes questões. Impera a política do ziguezague, do apaga incêndio para resolver os problemas que vão se avolumando de forma crônica. Um deles é a violência no trânsito que se acentua com o aumento da frota, a sinalização precária, o mau estado de conservação das ruas e das avenidas e a ineficiência do transporte público somados à má educação dos motoristas.

Nada contra quem gosta de ouvir o ronco dos motores, de ver as aparições na mídia nacional ou apreciar as demonstrações de força e de poderio das máquinas, mas a solução dos graves problemas urbanos se resolve no suado varejo do dia a dia, longe dos flashes e dos holofotes, com uma atuação integrada, executada por pessoas capacitadas, baseada em um plano de ação de domínio público, alinhavados com uma sistemática verificação das metas para alcançar resultados. Sem isso, as ações calcadas exclusivamente nas estratégias de marketing se esfacelam na avaliação popular e se tornam tão inócuas quanto aqueles chutes que o palmeirense Valdívia costuma dar no ar. Por sinal, no último deles, o craque do Palmeiras acabou se machucando sozinho. 

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