
O vírus da fragilidade
O mundo seguia com a sua aparente “normalidade” com tragédias e notícias boas se misturando no panorama internacional. Meses atrás, o cenário mundial foi incendiado pelo desmatamento na Amazônia e o fogo descontrolado na Austrália. No outro extremo, novos dados alarmantes sobre o degelo da Antártica e a elevação da temperatura do planeta. Para chamar a atenção da opinião pública, os cientistas mais renomados, de vários países do mundo, acenderam o alerta e denominam o estágio atual do aquecimento global como “emergência climática”. Líderes mundiais se reúnem em Davos, nos alpes da Suíça, e em outras capitais do mundo. Acordos são assinados, mas as medidas eficazes para impedir a elevação da temperatura da Terra são pendulares, ora andam para frente, ora para trás.
O Brasil enfrenta uma longa e desastrosa temporada de chuvas como há muito tempo não se via. Há dois meses a região Sudeste está debaixo d’água. Quem mais sente os efeitos das chuvas intensas é a população de baixa renda. O balanço mostra dezenas de mortos e famílias inteiras soterradas. As enxurradas destroem casas e levam móveis e utensílios. Tem gente que fica só com a roupa do corpo. Não se trata de alarmismo ou do apocalipse. A humanidade também faz progressos impressionantes com curas de doenças e as invenções que tornam a vida moderna mais cômoda e segura.
No meio desses avanços e retrocessos do Século XXI, a China resplandece como potência econômica com a qual o mundo inteiro aspira manter relações comerciais. Os chineses possuem um mercado bilionário para abastecer e sob a ditadura do partido único são capazes de façanhas incríveis que vão muito além da construção de um muro. O país virou uma gigantesca locomotiva da qual a economia mundial depende.
Em 10 dias, os chineses conseguem construir um hospital com 1.000 leitos.
De repente, essa aparente robustez da humanidade sofre um baque inesperado, desmorona por algo que nenhum economista ou cientista poderia prever.
Um minúsculo agente infeccioso, desprovido de metabolismo independente, que se replica somente no interior de células vivas hospedeiras, se espalha causando uma enorme apreensão mundial.
O coronavírus, batizado pelos cientistas de COVID-19, faz soar o alarme global, escancarando de forma avassaladora a fragilidade da natureza humana.
Bolsas de valores sobem e descem, o dólar dispara, os japoneses avaliam a possibilidade de suspender as Olimpíadas e eventos que não são imprescindíveis são adiados ou cancelados. Empresas suspendem as viagens dos executivos que fazem negócios. A Itália, que tem no turismo a principal atividade econômica, aparece na lista dos países com maior número de casos. O vírus também revela a faceta sombria de ditaduras como o Irã e a China que esconderam a doença até aonde puderam, agravando o contágio e aumentando o número de mortes. A economia mundial dá uma desacelerada, mas governos e empresas se movimentam para que a roda continue girando.
Apesar dessa justificável preocupação, a vida não pode parar. As pessoas devem ficar atentas às medidas recomendadas pelos médicos para que a doença seja isolada até que uma vacina seja descoberta. A atenção da população e a adoção de medidas simples diminuem as possibilidades de que a doença saia de controle. O país já se saiu bem no enfrentamento de outras epidemias, casos da SARS e da H1N1. Em Ribeirão Preto, havia dois casos de coronavírus suspeitos até o começo de março. Um deles foi descartado. A cidade está em alerta, mas outra doença que também pode ser letal se espalha há anos.
Por mais que ações e campanhas sejam feitas, Ribeirão Preto não consegue se livrar da dengue que completa na história mais recente 30 anos de circulação. Na mesma semana em que o mundo se movimenta para combater o COVID-19, a Secretaria Municipal de Ribeirão Preto confirmou a nona epidemia de dengue com quase 130 mil casos acumulados desde 2009. Em 2020, o número de casos chegou a 3.065 com média alarmante de 50 novos casos por dia. A cidade também teve a confirmação dos primeiros casos de sarampo. No passado, houve registros de zika e de chikungunya. O que há em comum em todas essas doenças é que elas precisam ser enfrentadas com a devida seriedade. Cada cidadão precisa ter a consciência de que necessita zelar pela sua saúde e de quem está em seu entorno. Não há razão para pânico ou medo, mas a vida precisa ser encarada com responsabilidade, principalmente quando doenças oportunistas estão à espera de um vacilo.