
Os critérios do voto
Neste domingo, cada cidadão brasileiro maior de 16 anos tem um compromisso importante para cumprir com a democracia do país. Facilitado pela tecnologia, o voto não demora mais do que 30 segundos, mas as consequências, com certeza, perduram por quatro anos. São muitos os critérios que um eleitor pode levar em conta para escolher um bom prefeito e um bom vereador. Não é história de duende, eles existem, embora sejam difíceis de encontrar. No caso específico de Ribeirão Preto, em face dos últimos acontecimentos, alguns requisitos se tornaram imprescindíveis.
Nesse momento político da cidade, se houvesse uma pesquisa fidedigna sobre a principal aspiração dos eleitores, certamente a honestidade seria o primeiro requisito. Não deveria ser assim, pois os filtros para o ingresso da vida pública teriam que ser bem mais rígidos. Invalidar, por exemplo, a lei da Ficha Limpa será um retrocesso. Entretanto, a Sevandija e a Lava Jato e tantas outras operações revelaram a face mais perversa da politica local e brasileira, em que o interesse particular ainda está bem acima da visão pública. Os impeachments, as impugnações e as cassações mudaram o panorama do jogo que até aqui era francamente favorável à corrupção.
Nesta eleição, por mais drástica e assustadora que seja a situação da Prefeitura de Ribeirão Preto do ponto de vista financeiro e ético, a cidade tem o surpreendente número de nove candidatos a prefeito. Ou seja, nove políticos locais acreditam que reúnem competência e condições suficientes para tirar Ribeirão Preto do caos. Essa pretensão se contradiz com o nível apresentado pelos candidatos nos debates promovidos pelas emissoras de TV e pelas entidades da sociedade civil. O que se viu nessa campanha foi um festival de ataques, troca de acusações, ameaças de processos e uma avalanche de propostas que não podem ser implantadas em curto prazo.
Alguém poderá dizer que não há nada de novo nisso, mas quem assiste aos debates e a propaganda eleitoral gratuita fica com a sensação de que, ano a ano, o nível está indo ladeira abaixo. Novamente reaparecem aquelas promessas de oferecer educação em tempo integral, zerar o déficit das creches ou operar milagres no atendimento de saúde. Pelo estado atual do orçamento da Prefeitura, só os incautos acreditarão nessas promessas.
Contudo, essa dificuldade não serve de justificativa para se ausentar ou deixar de tentar fazer uma boa escolha. Anular ou votar em branco favorece o sistema atual, pois alguns políticos aprenderam a usar o poder para o tráfico de influência como demostraram as gravações reveladas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. A chance de escolher um bom gestor para sua cidade só aparece de quatro em quatro anos, portanto, trata-se de uma oportunidade nobre. Se a honestidade se impõe como um bom critério inicial, ela não é a única virtude a ser considerada. Não há problema nenhum em aumentar o nível de exigência analisando o currículo, a formação, a história, o conhecimento administrativo e a capacidade de articulação que o candidato possui. Se concluir que nenhum dos nove candidatos reúne todas as qualidades que você considera importantes, nem assim estará dispensado de fazer uma boa escolha. Afinal de contas, um deles será o eleito para administrar a cidade e interferir na sua vida por longos quatro anos.
Um sábio pensamento ensina que a política é a arte de fazer possível. Tem sido assim no Brasil onde raramente o ideal se apresenta como opção de escolha. Mesmo que as alternativas não sejam as melhores, os candidatos não são iguais, possuem diferenças em todos os quesitos. As investigações policiais demonstram, de forma cabal, que tem gente que comete alguns ilícitos e que tem outros que aparelham o Estado para roubar milhões. Tem prefeitos que terminam o mandato sem sobressaltos e outros que não podem mais andar na rua, no meio do povo. Tem candidato incompetente e candidato que devia ser um pouco mais preparado.
Na definição do vereador, o processo de escolha deve seguir a mesma lógica com a vantagem de grande oferta de nomes para escolher, aproximadamente 550 que concorrem a 27 vagas da Câmara de Vereadores de Ribeirão Preto. Muita gente programa uma viagem com um ano de antecedência e, meses antes, inicia os preparativos para uma festa, mas na hora da eleição não faz pesquisa nenhuma e vota no primeiro que aparece. Pensa que isso não faz grande diferença. Ledo engano. Os recentes episódios no Brasil e em Ribeirão Preto deixaram bem evidentes o alto custo das escolhas equivocadas.