
Os pingos da chuva
Janeiro foi um mês bastante complicado para a população de Ribeirão Preto que trafega pelas ruas de carro, que usa o transporte coletivo e que depende do atendimento médico da rede municipal de saúde. Este ano, em fevereiro não haverá Carnaval para afogar essas mazelas, mas os ribeirãopretanos esperam que a situação melhore ainda este mês. Senão, quando vierem as águas de março ... Em janeiro, a crise da saúde recrudesceu com o ressurgimento de situações muito semelhantes às que abalaram a cidade no começo do ano passado.
Emissoras de televisão mostraram imagens de uma população revoltada na porta das unidades básicas e distritais de saúde, reclamando das intermináveis horas de espera para ser atendido e a eterna falta de leitos para internação. Com muitos médicos em férias, faltaram profissionais para trabalhar no pronto atendimento. O agendamento para uma consulta com um reumatologista demora meses. Depois de tanta discussão em torno de um problema crônico que se arrasta há anos, agora a Prefeitura e o Departamento Regional de Saúde (DRS), órgão que representa o Estado, ensaiam um jogo de empurra sobre a responsabilidade das internações.
Ao lado da saúde, o transporte coletivo é outra área nevrálgica que atrasa a vida da população. Em horários de pico, o usuário espera até uma hora para andar em ônibus superlotado. A situação do transporte coletivo se complicou quando os dois terminais que a cidade possuía foram desativados. Com o crescimento populacional ocorrido nos últimos anos, passou da hora de Ribeirão Preto rever o endereço de alguns espaços públicos, mas interesses econômicos pesados e a falta de iniciativa política brecam essas mudanças há anos.
Não há local melhor que a Estação Rodoviária para a instalação de um terminal de ônibus urbano, o que facilitaria a integração das linhas. Se Ribeirão Preto tivesse um mínimo de planejamento, a Rodoviária já teria sido transferida para outro local. Cerca de 300 ônibus chegam e saem diariamente complicando o trânsito nas imediações. Por sinal, a Rodoviária, que recentemente foi apontada por uma estranha pesquisa como uma das melhores do país, ficaria muito bem localizada se fosse instalada lá pelas bandas do Aeroporto, perto da Anhanguera e do Anel Viário.
Por sua vez, o acanhado Leite Lopes já deveria ter seguido viagem e decolado para outro local.Mas todas essas mudanças dependem de investimentos públicos e, no momento, a Prefeitura de Ribeirão Preto não tem recursos para aplicar. O déficit orçamentário de 2010 ficou em R$ 57 milhões, o dobro do registrado no ano anterior (R$ 27 milhões). Ribeirão Preto chegou ao ponto que até para tapar buracos precisa de recursos federais. Uma situação tão complicada, mas bem resumida por uma das inefáveis e apropriadas estrofes da música “Águas de Março” escrita pelo mestre da MPB, Tom Jobim.
“É o fundo do poço, é o fim do caminhoNo rosto o desgosto, é um pouco sozinhoÉ um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um pontoÉ um pingo pingando, é uma conta, é um conto”