Pedalada perigosa

Pedalada perigosa

Informalmente, os ciclistas costumam dizer que em alguns bairros e em zonas rurais de Ribeirão Preto é mais perigoso andar com uma bicicleta bem equipada do que trafegar com uma BMW. Pode parecer exagero, mas as úlztimas ocorrências registradas por câmeras de segurança revelam que em Ribeirão Preto o furto e o roubo de bicicletas se tornaram um negócio lucrativo. Câmeras de TV mostraram grupos de adolescentes invadindo prédios para levar bicicletas. Os casos de ciclistas assaltados se multiplicam e aparecem com frequência na cobertura policial da imprensa. Em alguns canaviais, mesmo pedalando em grupo, o assalto é considerado líquido e certo. Na área urbana, ruas e avenidas movimentadas como a Fiusa e a Presidente Vargas fazem parte do mapa dos locais onde mais ocorrem assaltos. 

As consequências desse tipo de crime podem ser trágicas, pois não raro o assalto se transforma em homicídio. O caso de maior repercussão ocorreu com o empresário ribeirãopretano Sérgio Buonarotti, tema do Documentário 1538ºC – The Iron Human. Mesmo pedalando em grupo e com uma escolta armada, Sérgio foi baleado no abdômen e passou três meses em coma. Demorou dois anos e meio para se recuperar. Quando se relembra a história do empresário chama atenção a data da ocorrência. O crime aconteceu em 2011 no Anel Vário. Mais de 10 anos se passaram e a indústria do roubo de bicicleta persiste. Pelo menos na teoria, não deveria ser assim. Se esse tipo de crime ocorre com tanta frequência, os órgãos de segurança pública deveriam identificar e prender os grupos que rotineiramente realizam esse tipo de assalto na cidade. Ninguém imagina que isso seja uma tarefa fácil, mas as próprias estatísticas revelam os locais em que os furtos e roubos mais acontecem. O crime só compensa quando se torna um negócio lucrativo. Se há tanta gente roubando bicicleta é por que tem alguém comprando o produto do roubo. Foi justamente combatendo o crime de receptação que em alguns momentos os órgãos de segurança conseguiram diminuir o roubo de carros na cidade, mas que agora voltou a subir. Neste primeiro trimestre, quando se somam todos os tipos de furtos e roubos, Ribeirão Preto alcança a assustadora média de quase 40 ocorrências por dia. Nesse ritmo, em um ano, serão quase 15 mil ocorrências. 

Com esses índices de violência muitas pessoas precisam abrir mão do hobby de pedalar sozinho ou em grupo. Subliminarmente, algumas vezes, a culpa pelo furto ou assalto ainda recai sobre a vítima “que não deveria estar pedalando naquela região da cidade”.  Nos tempos atuais, os valores se invertem facilmente. Incrementar uma bike a bel prazer e sair para pedalar remete à infância e resgata a sensação de liberdade. Para que esse lazer fique completo, o ciclista só deseja transitar livremente pela cidade onde mora, sem medo de ser roubado. Isso deveria ser um direito natural de qualquer cidadão. Claro que ninguém pode ser ingênuo a ponto de não se preocupar com a própria segurança, mas a situação passa do limite quando o cidadão tem mais medo de ser assaltado do que o ladrão de ser preso. O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, anunciou a “Operação Sufoco”, garantindo que vai colocar mais policiais nas ruas, com a Atividade Delegada que autoriza policiais civis e militares a fazerem até 10 dias de horas extras por mês. A Polícia Militar reitera o policiamento ostensivo como uma resposta padrão para os questionamentos sobre o crescimento de índices de criminalidade. Ciclistas e a população torcem para que essas e outras medidas funcionem para que a turma das bikes possa voltar a pedalar sem medo. 

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