A piada do Jô e da Dilma

A piada do Jô e da Dilma

Jô Soares foi um dos melhores humoristas que o Brasil teve na era da TV, ao lado de Chico Anísio e de Ronald Golias. Geralmente, pessoas famosas se destacam porque possuem um talento, um dom, mas raras são as personalidades que conseguem conjugar dois talentos. Assim, com as devidas exceções, grandes jogadores aposentados, casos de Neto e de Ronaldo Fenômeno, viram péssimos comentaristas de futebol.

Desde que se aposentou, Jô Soares decidiu ser entrevistador, mas possui um defeito grave para quem se propõe a ouvir o que outras pessoas têm a dizer. Jô Soares fala demais e, via de regra, invade o tempo que deveria ser do entrevistado. Mesmo que atrapalhe um pouco, o gordo mais simpático do país tem carisma e sacadas espirituosas. O Programa do Jô tem uma produção muito boa, que consegue encontrar entrevistados interessantes. Mesmo sendo exibido depois da meia noite, o programa possui uma audiência expressiva para o horário.

Na semana passada, Jô Soares se aventurou por uma área que não domina muito bem: a política. Fez uma entrevista chapa branca, oficialíssima, com a presidente da República. Durante o programa inteiro, como se fosse uma conversa íntima entre dois amigos, Jô Soares levantou a bola para Dilma Rousseff cortar. Na entrevista que durou uma hora e 10 minutos, o apresentador deixou evidente que a sua intenção era abrir um espaço generoso para que a presidente falasse o que quisesse, sem ser muito pressionada, justamente em um momento em que a economia está encolhendo, segundo as estatísticas. Há algum tempo, os ânimos no país estão exacerbados e a entrevista de Jô Soares foi duramente criticada nas redes sociais.

O apresentador começou o programa defendendo uma posição justificável, contrário à campanha que pede o impeachment da presidente da República. De fato, a Constituição Brasileira não estabelece que a incompetência política e econômica do mais alto mandatário seja motivo para a retirada do cargo. O envolvimento direto com os vários casos de corrupção ocorridos no governo não foi comprovado, portanto, não uma motivação substancial para a abertura de um processo de impeachment.

Digamos que esse tenha sido o melhor do momento do entrevistador, mas os piores lances foram muitos. Um momento lamentável, que revelou o enorme despreparo para conduzir uma entrevista política, foi quando perguntou à presidente: “o Michel Temer, vice-presidente da República, foi escolhido para ser o articulador do governo pela sua habilidade política ou porque ele está muito bonito, cada vez mais lindo, depois que operou o nariz e ajeitou os cabelos?” Em outra pergunta com claro intuito “de dar uma força” a Dilma, Jô perguntou se quando Dilma decidiu trocar a presidência da Petrobras, em 2012, ela já pressentia que havia algo de podre no reino do Petróleo?

Em qualquer época, em qualquer governo, se tem alguém com espaço para falar à vontade, esse alguém é o presidente da República que dispõe do enorme aparato da comunicação oficial. Diariamente, Dilma faz discursos e concede entrevistas para a mídia do país do inteiro. Em nenhum momento da entrevista, Jô Soares cobrou da presidente da República a sua responsabilidade pela crise atual.

Mesmo com a baixa audiência do horário, a presidente não se fez de rogada e repetiu a mesma cantilena que recita desde que foi eleita para o segundo mandato. Atribui o desastre econômico do seu governo à alta do dólar, à seca, à crise internacional ou à incompreensão das pessoas. Para a mais alta mandatária do país, o que o Brasil tem de bom começou a ser construído de 13 anos para cá, período que coincide com o início dos governos do PT, uma estreiteza política incompatível com o tamanho do cargo que ocupa. Lá pelas tantas, quanto o assunto era o escabroso escândalo da Petrobras, Dilma mencionou um desconhecido “Oscar da inovação” que a Companhia ganhou para justificar o vergonhoso assalto da qual a empresa foi vítima.

O compacto dos piores momentos ainda teve muitos outros lances. Dilma fala de uma “pátria educadora”, onde o nível de escolaridade é baixíssimo, os professores ganham pouco, vivem em greve e apanhando da Polícia. Presidente, que país seria esse? Certamente, não é o da realidade de Sertãozinho, onde as empresas estão fechando e o número de desempregados só aumenta. Certamente, a realidade do país da Dilma e do Jô não é o que está acontecendo em Ribeirão Preto, onde o que mais se encontra pelas ruas e pelas avenidas é a placa do aluga-se. A única explicação para a inapropriada entrevista é que o Jô Soares e a Dilma estavam sem ter o que fazer e resolveram criar um novo humorístico, uma piada para distrair a opinião pública nesse momento de grave crise econômica, política e moral.

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