
Precisa-se de eleitores
Cidade de porte médio, de projeção nacional, mas com muitos problemas sociais e de infraestrutura a resolver, convoca seus 435 mil eleitores para que compareçam às urnas, no dia 30 de outubro, para escolher o novo prefeito. Os moradores de uma cidade não vivem do status e da fama. Nos últimos oito anos, o município que ficou nacionalmente famoso pelos indicadores econômicos, visivelmente regrediu devido à corrupção e à incompetência administrativa. Quase todas as estatísticas sociais despencaram. Os problemas de infraestrutura já comprometem os investimentos da iniciativa privada e a cidade corre o risco de perder a preferência nos investimentos para outros municípios.
Na saúde, uma área em que os riscos são bem maiores, Ribeirão Preto está amedrontada pelo mosquito transmissor da dengue, da zika e da chikungunya. Nesse problema, a responsabilidade pode ser dividida entre a administração e os moradores. Este ano, um total de 35 mil pessoas contraíram dengue e agora, nos próximos voos, com chuva e calor, o aedes aegypti ameaça espalhar a febre amarela, uma doença cuja taxa de letalidade chega a 50%. Na infraestrutura, os buracos nas ruas e avenidas são os sinais mais visíveis da derrocada administrativa. Milhares de cidades brasileiras, bem menores que Ribeirão Preto e com menos recursos, não apresentam um pavimento tão ruim, o que coloca em risco a segurança dos moradores.
Diante de tantos problemas que se avolumam ano a ano, torna-se urgente o comparecimento do maior número possível de eleitores. O sistema democrático em vigor aposta no discernimento e no juízo da maioria, mesmo que a tendência majoritária não garanta boas escolhas. Na história recente, dois ex-presidentes bem votados, Fernando Collor e Dilma Rousseff, provocaram grandes desastres econômicos, políticos e administrativos. A atual prefeita de Ribeirão Preto, vitoriosa em duas eleições municipais, uma delas em primeiro turno, está entregando uma administração em frangalhos, endividada e eivada de denúncias de corrupção.
Mesmo assim, solicita-se especial atenção e empenho na tarefa. Na hora em que digitar os números na urna eletrônica, o eleitor precisa levar em conta o quesito honestidade para que lá na frente não seja surpreendido por alguma operação cujo nome faça alusão aos parasitas que se alimentam do trabalho e do esforço alheio. Para fazer uma boa escolha, pede-se um exame atento das propostas dos candidatos que no calor da campanha costumam prometer um admirável mundo novo que só existe na ficção e na fantasia. Vale a pena dissecar o discurso fartamente apresentado na propaganda eleitoral, em quatro debates na TV e nas entrevistas da imprensa. Também não se pode mais acreditar em todos os factoides que povoam as mídias sociais e as campanhas eleitorais.
O eleitor que acompanha a política sabe que a história recente do Brasil e de Ribeirão Preto registra alguns estelionatos eleitorais, aquelas estórias de difamação e de lobo mau que só cabem no imaginário juvenil. Não dá mais para acreditar naqueles contos assustadores dos truques de computação gráfica em que pratos de comida desaparecem da mesa e que locutores com vozes sinistras anunciam o sumiço do dinheiro no banco. O bom e o mau só formam o par perfeito nos contos de fada. Afinal, não foram raras às vezes em que no infeliz final da estória, o próprio denunciante virou algoz.
O eleitor atento desconfia toda vez que o candidato promete uma cidade maravilhosa demais. Ribeirão Preto já elegeu prefeito que fez algumas obras e deixou um caminhão de dívidas, já sufragou alcaide de uma obra só e já votou várias vezes em político que pouco ou nada fez. Um prefeito custa caro, não pelo salário que receberá, mas pelo poder que recebe através do voto para direcionar uma cidade para o progresso econômico ou para o retrocesso político e administrativo.
Essa oportunidade rara, ficar alguns segundos na cabine de votação, só aparece de quatro em quatro anos. Além do número do candidato, o eleitor precisa saber que se trata de uma escolha que não tem volta. Mesmo que a legislação preveja alguns casos de impeachment ou de cassação, na prática, a infinidade de recursos judiciais assegura que um prefeito permaneça no cargo até o fim do seu mandato mesmo que esteja atolado em denúncias de corrupção. Quem pagará o pato se a operação for mal sucedida será o eleitor, o cidadão, o contribuinte, o morador que no fundo são uma pessoa só. Os episódios recentes confirmaram o velho jargão popular: o que está ruim pode piorar. Cabe ao eleitor evitar que isso aconteça.