Precisa-se de prefeito

Precisa-se de prefeito

Cidade de porte médio, de projeção nacional, com cerca de 650 mil habitantes, tem vaga disponível para prefeito a partir de 1º de janeiro do ano que vem. O interessado precisa estar disposto a se submeter à rigorosa seleção. O requisito número um do pretendente a esse cargo é a honestidade comprovada, inclusive com a verificação dos antecedentes. No entanto, exige-se para essa árdua função outros conhecimentos essenciais, tais como expertise comprovada na área administrativa, financeira, orçamentária, educacional, de transporte, de saúde, de cultura e de esporte. 

O candidato precisa estar preparado para trabalhar sob forte pressão, pois, quando assumir o cargo, enfrentará uma enorme quantidade de demandas sociais represadas. Terá que administrar o caos e, provavelmente, encontrará muitos esqueletos espalhados pelos armários da administração. A cidade tem dívida com fornecedores e deve muito para órgãos públicos. Embora nem os balanços sejam confiáveis, estima-se que possa chegar a R$ 1 bilhão. Muitas benfeitorias precisam ser feitas com urgência, como a recuperação do asfalto, da infraestrutura urbana e dos equipamentos de saúde, mas não existem recursos disponíveis.

Para dar conta de tantas demandas, o candidato precisa ter o perfil de uma pessoa equilibrada, que saiba liderar equipes e mediar conflitos. Como encontrará uma situação financeira difícil, uma terra arrasada por assim dizer, terá que ser criativo para encontrar receitas alternativas. Ao mesmo tempo, deve estabelecer prioridades para cortar despesas que não forem absolutamente necessárias. Nos últimos meses, para tristeza de seus moradores, a administração dessa cidade foi parar nas páginas policiais da imprensa nacional, fato que causou profundo constrangimento e indignação. 

Para o desempenho de uma tarefa com tantas responsabilidades, paga-se relativamente bem. Além do status de ocupar função tão cobiçada, hoje, o salário bruto do futuro prefeito está em torno de R$ 17.300,00, mas, a partir de janeiro de 2017,  há um reajuste programado que elevará a remuneração para R$ 23 mil. Além disso, o candidato aprovado terá outras vantagens, como motorista particular, assessores e algumas despesas pagas. Contudo, em face dos últimos acontecimentos, seu desempenho será monitorado de perto pela população e pela imprensa. A cada volta que der na rua, terá que dar satisfação aos eleitores e, ano a ano, prestará contas à Justiça e aos órgãos de fiscalização. Embora tenha estabilidade por quatro anos, o empregado número um da municipalidade pode perder cargo por improbidade administrativa, sofrer um processo de impeachment e ser execrado pela imprensa e nas redes sociais. 

Por mais contraditório que pareça, é justamente nessa complexidade que repousa a representatividade, o potencial assertivo e a igualdade que a democracia propõe. Se fosse uma empresa privada, bastaria publicar um anúncio em algum classificado com o texto acima que logo apareceriam candidatos com bons currículos, mas a escolha não seria democrática, pois os critérios validados seriam de uma pessoa ou de um grupo. A facilidade unilateral não assegura uma escolha correta. No caso de uma eleição municipal, existe um processo, que apesar de imperfeito, confere a todos o direito e o dever de participar da decisão. No primeiro turno da eleição, nove candidatos se apresentaram para fazer a gestão desta “empresa” chamada Ribeirão Preto. Dois candidatos passaram pelo crivo das urnas e chegaram ao segundo turno. A tarefa está facilitada para os eleitores que se identificam com a proposta de um ou de outro, mas mesmo o eleitorado que não se sente representado por nenhum dos dois, deve avaliar com a atenção qual dos concorrentes reúne as melhores condições. Se preferir, pode inverter a equação e optar pelo menos pior. 

Contudo não se pode fugir da responsabilidade que o segundo turno apresenta. Além da construção de uma maioria, a nova votação funciona como uma espécie de segunda oportunidade para que o eleitor influencie na escolha do administrador da cidade. Omitir-se através dos votos brancos, nulos ou da ausência apenas transfere para outros o poder de decidir. Afinal de contas, quer goste ou não o eleitor, um dos dois será o eleito para administrar a cidade por quatro anos. Numa análise superficial, pode parecer que todos são iguais, mas um exame mais acurado, sob a luz do olhar crítico, revela as diferenças. Para reconhecer o vínculo entre a escolha do prefeito e o futuro da cidade nem é preciso uma discussão filosófica mais profunda. Basta sair de casa para ver o estado em que Ribeirão Preto se encontra. 

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