
A própria vida pelo próximo
Não existe nada pior do que a banalização da morte, a reação indiferente à perda de pessoas mesmo que elas sejam desconhecidas. Um político conhecido dos dias atuais lembrou com desdém que todos nós morreremos um dia, mas essa data não precisa ser abreviada pela inoperância dos governantes ou pela falta de consciência dos cidadãos. Não dá para aceitar como algo normal a rotina macabra da média diária que leva embora mil pessoas por dia. Em junho e julho, os óbitos que antes pareciam distantes no noticiário se tornaram cada vez mais próximos.
Médicos, enfermeiros, técnicos de saúde, fisioterapeutas, nutricionistas e funcionários administrativos são algumas profissões que todos os dias ficam expostas a uma enorme carga viral em hospitais, postos de saúde e unidades de pronto atendimento. Com o rosto escondido debaixo de máscaras, de óculos e de outros itens de segurança, esses heróis anônimos arriscam as próprias vidas para salvar pessoas que não conhecem. Pode haver maior demonstração de empatia do que essa? Situação inversa também ocorre e o egoísmo extremo também pode ser encontrado facilmente. Uma rápida olhada pelas redes sociais revela que, infelizmente, desde o início da pandemia, um grande número de pessoas não reconhece esse esforço, despreza as regras de isolamento, ignora a ciência, difunde teses absurdas e menospreza os riscos da pandemia.
Ribeirão Preto já perdeu dois agentes da saúde para a Covid 19. A última vítima foi o técnico de enfermagem, Marco Antônio Pimenta Pires, de 51 anos, que não tinha problemas crônicos de saúde. Pegou a doença no plantão da UPA da 13 de maio. Foi internado em um hospital de Batatais, cidade onde mora e faleceu um mês depois. O enfermeiro era uma pessoa que se relacionava bem com todo mundo, gostava de ler e um dos passeios preferidos era comprar livros em Ribeirão Preto, junto com a filha de 17 anos. Marco Antônio participava de ações voluntárias em favor das entidades assistenciais de Batatais. O enfermeiro é um exemplo do herói brasileiro, o cidadão comum de bom coração capaz de pensar mais nos outros do que em si mesmo. Um tipo de ser cada vez mais difícil de ser encontrado e que deixa um enorme vazio quando vai embora.