
Que trem!
Criminalistas renomados, a imprensa vigilante e juristas de peso apostam que até o final deste ano eminências pardas ligadas ao governo do PT e ao mensalão verão o sol nascer quadrado, mas o desfecho pode ficar para 2014. O coro do troco petista sempre bradava que o mensalão era originário de Minas Gerais, sede do Banco Rural, recentemente liquidado pelo Banco Central. A sangria dos cofres públicos teria começado na época do ex-governador do PSDB e hoje, deputado federal, Eduardo Azeredo. Até então, o tucanato tinha passado incólume a graves denúncias de corrupção desde que assumiu o governo de São Paulo, em 1995, sucedendo a duas gestões desastrosas do PMDB, de Orestes Quércia e de Luiz Antonio Freury. Eleito em 1994 e reeleito em 1998, Mário Covas morreu de câncer em 2001. Foi enterrado com a imagem de estadista e de político ilibado. Teve como sucessores dois tucanos de alta plumagem que alçaram voo à condição de estrelas do partido. Além de governar São Paulo, José Serra disputou duas eleições presidenciais, de 2002 e 2010, enquanto Geraldo Alckmin concorreu em 2006, além de governar o Estado em três gestões. Coloque-se nesse ninho tucano, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que descontadas algumas bicadas, sempre conviveu, proximamente, com estas espécimes raras.
Assim, com essa gênese paulista, há mais de 20 anos, o PSDB do Estado nunca havia se aproximado tanto de uma lama tão grande como essa que se avizinha na próxima estação. Em meados de julho, a imprensa divulgou a existência de um cartel que visava à obtenção de favorecimento para oferecer material ferroviário para linhas do metrô e de trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). A denúncia partiu de uma das empresas que fez parte do cartel, a alemã Siemens que fez um acordo de colaboração com o Ministério Público em troca de imunidade. As fraudes envolveriam seis licitações com combinações de resultados entre as empresas concorrentes. O conluio de fornecedores pode ter aumentado os preços de licitações bilionárias em até 30%. A Polícia Federal investiga as fraudes que teriam ocorrido de 2000 a 2007.
Antes que as investigações avancem, os governantes não podem ser condenados, mas as denúncias levantadas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) são graves. Na primeira hipótese é preciso considerar que as combinações tenham sido feitas somente entre particulares, sem a anuência de funcionários públicos. Na segunda hipótese, o conluio poderia ter sido formado com a participação de funcionários públicos, envolvidos aí no crime de concussão, vulgarmente conhecida como propina. Nessa alternativa, esses ilícitos teriam ocorrido sem o aval das insignes lideranças do PSDB. Na terceira possiblidade, as fraudes teriam sido praticadas com a chancela dos caciques. Seria a forma que os tucanos encontraram para irrigar os cofres das campanhas eleitorais. Confirmadas as denúncias, o escândalo envolvendo as obras do governo de São Paulo seria algo correspondente ao mensalão petista. Cabe agora apuração para descobrir quem são os responsáveis e se há ligações com governantes. O envolvimento do PT no mensalão foi ruim para a democracia. O mesmo pode ocorrer agora caso se confirme a ligação do PSDB. No momento em que as ruas clamam por moralidade, os dois maiores partidos do país chegariam enfraquecidos nas eleições de 2014. As outras alternativas políticas estão em formação ou ainda não possuem envergadura nacional. O pior que pode acontecer para a democracia é quando você avalia a conjuntura e descobre que não tem mais em quem acreditar. Se para os mineiros o “uai” é a interjeição que melhor sintetiza o espanto, para os paulistas este será um trem difícil de engolir.