A química da teimosia

A química da teimosia

Em alguns casos, a teimosia reiterada mesmo diante das maiores evidências só encontra justificativa na doença que tira as pessoas do juízo normal, distorce e até inverte a compreensão da realidade. Isso geralmente resulta em teorias estapafúrdias que contrariam a lógica e a ciência. Nos últimos tempos, os anacronismos mais evidentes contrariam a eficácia das vacinas e a circunferência do formato da Terra. Tem ainda quem não aceite o aquecimento do planeta e que a Amazônia sofra um longo e devastador processo de  desmatamento, que por sinal já preocupa o mundo inteiro.

A última façanha mundial da teimosia foi patrocinada pelo famoso e simpático tenista sérvio Novak Djokovic. Mesmo que a ciência tenha descoberto e comprovado a eficácia da primeira vacina há mais de 200 anos, o tenista milionário e com acesso às informações declarou que não aceitaria ser vacinado para disputar torneios em outros países. Não satisfeito, recentemente, promoveu jogos na Sérvia e na Croácia que desrespeitaram todas as normas de saúde para os jogadores e o público. Ainda organizou uma balada com casa cheia. O resultado foi que Djokovic, sua esposa e mais uma porção de tenistas que participaram dos jogos se contaminaram. Restou ao ídolo do tênis pedir desculpas depois da saraivada de críticas que recebeu nas redes sociais.

Na edição de 24 de junho, a revista Veja publicou uma interessante reportagem com um título sugestivo: “a química da teimosia”. A matéria se baseou em um estudo de uma revista científica britânica. A pesquisa apontou que o ser humano tem dificuldade de mudar de opinião depois que um conceito se solidifica no cérebro. A partir de um determinado ponto de confiança sobre uma crença, o cérebro simplesmente não processa novas informações. Talvez isso justifique porque mesmo após uma avalanche de denúncias de corrupção e de insanidades uma parcela do eleitorado não abandona seus políticos preferidos, sejam eles de esquerda ou de direita. Devido à natureza coletiva do ser humano, os conceitos firmados por grupos sociais ficam ainda mais arraigados e se transformam em dogmas. Isso explica os atos de selvageria cometidos por “grupos religiosos” ou a violência das “torcidas organizadas”. O contraditório move a evolução do pensamento e não faz sentido contrariar os fundamentos científicos, exaustivamente comprovados, principalmente quando  essas ideias colocam em risco a vida das pessoas. 

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