Redes que viciam

Redes que viciam

Para usar uma expressão própria das redes sociais, o documentário “O Dilema das Redes”, exibido pela Netflix, viralizou com comentários e reportagens na mídia. A produção alcançou tanta repercussão porque trouxe à tona um fenômeno social que já vinha inquietando os usuários. O uso excessivo das redes sociais, com longas horas de conexão, cria uma dependência que provoca efeitos como ansiedade, compulsão, isolamento e estresse. Essa saturação já está incomodando.

As mesmas redes sociais que aproximaram pessoas distantes, agilizaram a comunicação e provocaram uma revolução nos hábitos e nos costumes, agora apresentam uma face sombria, ameaçando a sanidade mental das pessoas, estimulando a radicalização de posições políticas e religiosas, interferindo nas democracias e em processos eleitorais. O alerta partiu de quem tem propriedade para falar sobre o assunto: dezenas de profissionais qualificados do mundo digital, responsáveis pela criação e pelo desenvolvimento de plataformas e aplicativos que literalmente fisgaram a humanidade. Os celulares não dão trégua e mandam avisos o dia inteiro.

O âncora desse desabafo foi o cientista da computação do Vale do Silício, Tristan Harris, que revelou ao mundo os recursos antiéticos que as plataformas usam para maximizar a audiência e viciar bilhões de usuários. No momento, há uma luta desigual entre o cérebro humano e a inteligência artificial em busca da atenção pelo maior tempo possível. O algoritmo é capaz de padronizar opiniões, filtrar as preferências e detectar os desejos mais íntimos de uma pessoa para oferecer conteúdos que prendam a atenção. “Quantas vezes, você acessa uma rede social para ver algo e depois percebe que ficou horas navegando e muitas vezes nem viu o que motivou a sua conexão”, observa o cientista.

Harris e o documentário apresentam um panorama assustador com supercomputadores manipulando o comportamento humano, mas no mundo inteiro está surgindo um movimento que, apesar de tímido, questiona a interferência das redes sociais na vida humana. Leis de regulamentação estão surgindo, as empresas começam a ser pressionadas e essa caixa misteriosa começa a ser aberta. As pessoas estão percebendo as consequências da permanência exagerada na rede e precisam ficar atentas, pois há um limite muito tênue que separa a navegação saudável e o vício compulsivo.

 

Foto: Reprodução Netflix

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