Reféns do CHECKLIST

Reféns do CHECKLIST

Chegou a última novidade que em breve revolucionará o cotidiano das pessoas. O megamagnata americano da mídia Rupert Murdoch, presidente da News Corporation, conglomerado que controla grandes empresas na área da comunicação, acaba de lançar a mais nova quinquilharia tecnológica do mundo moderno: o primeiro jornal totalmente digital e exclusivo para iPad, o tablet da Apple. Desse jeito, logo chegará o dia em que repetiremos para esse aparelho a célebre frase murmurada há uma década para o bendito celular: como consegui viver até agora sem um?

O mundo virou uma neurose em que as utilidades e as inutilidades se misturam no cotidiano. Nas entrevistas, o técnico Tite do Corinthians fala muito sobre a importância do equilíbrio, mas tem sido ironizado por parte da imprensa esportiva. Nesta época do ano, você sente a pungente necessidade de fazer um curso, aprender um novo idioma ou se matricular na academia. O balanço das suas horas fica pequeno demais para tantas metas e compromissos. No entanto, chegou o momento ideal para dar um basta e desacelerar.

Muita gente só descobre que levava uma vida agitada demais quando tem um piripaque. Esse bárbaro frenesi do mundo moderno está tornando as pessoas exigentes demais consigo mesmas. O ócio virou luxo de poucos, é preciso estudar muito, participar de sites de relacionamento, dedicar-se de corpo e alma ao trabalho, praticar esportes, emagrecer, sem esquecer dos amigos e da família. A vida pessoal está refém de um extenso checklist. No rol de ambições não aparece nada prosaico, como uma visita a um museu ou um passeio pela praça. A TV mostra que a serenidade universal está por um fio lá no Egito. Cansado de ser achacado por policiais, um cidadão da Tunísia ateou fogo no próprio corpo e detonou a onda de protestos que se espalhou pelo norte da África.

O estresse passou do limite tolerável. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aposta que em 2020 a depressão será a segunda causa de morte do mundo, perdendo apenas para as doenças do coração. Pesquisas científicas revelam que 80% das consultas médicas têm o estresse como pano de fundo.

No último Reveillon, mesmo nas noites de festa e de celebração, milhões de pessoas ignoraram os amigos e os familiares e ficaram atreladas aos notebooks, aos iPads, aos iPhones em praias, cidades turísticas e em reuniões familiares. Uma cena que se repete no dia a dia. A sociedade industrial prometeu que a felicidade viria na carona do aumento do consumo, mas o noticiário mostra todos os dias que a população do país mais rico do mundo é de longe a que mais parece infeliz. Como a felicidade tem percepções diferentes, nunca haverá um consenso sobre o seu complexo significado ou uma simplória escala de valores que possa apontar o caminho. Ser feliz depende do que você considera felicidade, mas se o tema é tão difícil de ser decifrado onde encontraríamos alguma resposta? Quem responde com bom humor em uma conhecida frase é o inglês John Locke que filosofou sobre o tema há quatro séculos. “Pergunte a si mesmo se você é feliz, e deixará de ser”.

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