
Reforma alvissareira
As campanhas eleitorais servem para que os partidos e as coligações explicitem à opinião pública o que pretendem fazer quando assumirem o poder. Só depois de um ano e meio, a atual administração municipal apresentou um projeto de reforma administrativa, recentemente aprovado pela Câmara de Vereadores. A máquina foi gerida por 18 meses para que se descobrisse que não funciona a contento em várias áreas.
Assim, a administração apresentou um projeto de reforma que criou três coordenadorias (de Projetos, de Metas e de Limpeza Urbana). A Coordenadoria de Limpeza centralizará os serviços até então espalhados pelo Daerp, pela Secretaria de Meio Ambiente e pela de Infraestrutura. Essa proposta que unifica o serviço de limpeza do município chegou a ser saudada por políticos locais como um “avanço”. No jargão do mundo corporativo, foi qualificada como um “choque de gestão” pelos mais entusiastas. Por razões que a própria obviedade desconhece, até aqui, a pulverização dos contratos encarecia o custo e tornava os serviços públicos irracionais e improdutivos. Isso significa que depois de tanto tempo, a reforma administrativa teve a genial ideia de colocar todos os serviços afins numa mesma pasta. Uma conclusão deveras brilhante! O engenheiro Frederick Taylor, considerado o pai da administração científica, ficaria orgulhoso de ver que seus princípios foram muito bem colocados em prática um século depois da publicação dos seus escritos. Se estivesse vivo, o cartesiano Taylor certamente reivindicaria algum crédito em tão alvissareira reforma.
A mudança ainda traz outros avanços significativos. Com as devidas escusas pela redundância, a partir de agora, a Coordenadoria de Projetos cuidará dos projetos que podem ser desenvolvidos pela Prefeitura de Ribeirão Preto. A reforma também institui a Coordenadoria de Metas, que ficará atenta ao cumprimento das metas. Definitivamente, entramos na era do planejamento administrativo público municipal.
Por coincidência, em 1916, com a publicação de uma pesquisa, um francês estudioso chamado Henri Fayol, criador da Teoria Clássica da Administração, defendeu ideias semelhantes. Sustentou que o gerenciamento não poderia existir dissociado do planejamento, da organização, da direção e do controle. Com o advento das metas e dos projetos, a administração municipal alinha sua atuação em sintonia fina com os princípios da administração clássica, mas o metodológico Fayol, que prescreveu princípios universais para as empresas públicas e privadas, não ficaria 100% satisfeito. As coordenadorias estão vinculadas à Secretaria de Governo e a do Planejamento ficou de fora desse novo planejamento.
Para o contribuinte, a conta dessa obra de reengenharia será de R$ 500 mil por ano. Só na Coordenaria de Limpeza serão 52 novos cargos. O impacto das contratações no orçamento municipal, que tem uma queda de arrecadação prevista para o segundo semestre, provavelmente será tema de outra reforma “sine die”.