A saída para crise

A saída para crise

Pela terceira vez, Ribeirão Preto deu uma demonstração de consciência política acima da média nacional ao reunir na passeata cerca de 40 mil pessoas, quase o dobro do número de manifestantes que compareceu ao ato de Brasília (25 mil pessoas). A passeata de agosto teve um crescimento expressivo em relação às duas manifestações anteriores, realizadas em março e abril deste ano, que reuniram 15 e 25 mil pessoas. Numa brincadeira ideológica, os detratores criticam os integrantes do movimento, batizados pejorativamente de “coxinhas”. A denominação surgida em São Paulo se espalhou pelo Brasil para rotular qualquer indivíduo, teoricamente, conservador, ou seja, uma pessoa mais ligada a princípios capitalistas e a concepção do livre mercado.

Embora essa seja uma discussão irrelevante — na democracia cada cidadão tem direito a um voto independentemente da posição social — o crescimento no número de manifestantes atraiu outros segmentos para a mobilização. Ampliou-se o espectro de manifestantes e, consequentemente, de reivindicações, o que dificulta o encaminhamento das propostas. Ao contrário do raciocínio pejorativo, os raros momentos na história em que o cidadão mais humilde se une a um rico empresário para pedir mudanças rendem alguma transformação na política ao país. Recentemente, isso só ocorreu na campanha das Diretas Já e no impeachment do ex-presidente Fernando Collor.

Entretanto, a conjuntura atual está muito longe de um consenso. A organização autônoma do movimento, sem a vinculação com partidos políticos, traz uma grande vantagem, a adesão espontânea da massa de cidadãos indignados, sem a tutela de partidos políticos desgastados. A desvantagem surge na hora de apresentar a pauta de reivindicações, excessivamente diversificada e sem interlocutores representativos. Independentemente dessa nova forma de organização política, as manifestações ocorridas nas principais cidades brasileiras deixaram um saldo positivo, às vezes, despercebido pelos olhares menos atentos. Os protestos de rua aceleram o processo de mudanças no país, embora não se tenha garantias do tipo de transformação que ocorrerá. As reivindicações vão da revolta contra a corrupção ao pedido de impeachment da presidente, abrange o cidadão apartidário que anseia por mudanças na política econômica do país até o militante que nutre ódio explícito por Dilma Rousseff e pelo Partido dos Trabalhadores, que outrora foi o catalisador dessas manifestações. Nessa última manifestação, o ex-presidente Lula foi estigmatizado, em Brasília, com um boneco gigante vestido de presidiário.

Embora ainda esteja defendendo um mandato legítimo, a presidente Dilma Rousseff conta com a simpatia de apenas 8% da população e caminha para ser uma das presidentes mais impopulares da história. Institutos independentes como o Focus já apontam para uma recessão econômica em 2016. Se a política fosse uma luta de boxe, hoje, a primeira mandatária do país seria aquele lutador encurralado no corner, grogue, depois de receber três ataques contundentes em menos de seis meses. O juiz do cotejo abriu a contagem para ver se o lutador se recupera ou joga a toalha.

A grave crise institucional que o país enfrenta não tem uma solução fácil à vista. O processo político brasileiro possui o messianismo como principal caraterística política. Depois da aposentadoria do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, Sérgio Moro assumiu o posto de símbolo supremo da redenção nacional. Os partidos políticos não representam quem está protestando nas ruas. O maior partido de oposição, o PSDB, não sabe o que fazer. Desde o começo das manifestações, divide-se na existencial dúvida de pedir ou não pedir o impeachment. Depois da última passeata, o ex-presidente Fernando Henrique parece que tomou coragem e disse que Dilma precisa fazer um “gesto de grandeza.” Há quem defenda a radicalização do processo com a aprovação do impeachment e a saída na marra da presidente. Os defensores da legalidade constitucional argumentam que não se pode politizar a constituição e que somente um fato jurídico concreto pode ensejar um processo de impeachment. Será que num país existe um ato mais político do que a abertura de um processo de impeachment contra a presidente da República? Na outra ponta, proliferam reuniões conciliadoras para encontrar uma solução negociada com as “elites responsáveis.” Qualquer desfecho que a crise tenha, trará um alto custo político e econômico para o país, principalmente para os setores de menor poder aquisitivo. Dificilmente haverá uma saída indolor. No pós-manifestação, uma pergunta ficou para ser respondida, não de forma individual, mas de maneira coletiva: o que faremos para sair dessa crise?

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