
Salvos pela copa
Somos reféns de desconhecidos e vítimas da incompetência de um Estado incapaz de prover a segurança dos cidadãos. A população está à mercê da própria sorte, enquanto os olhos da opinião pública são desviados para as ações policiais espetaculares que acontecem no Rio de Janeiro. Há um mês, uma verdadeira chacina aconteceu na pacata Jurucê. Criminosos entraram em uma chácara e executaram pessoas reunidas em uma festa. Na semana que passou, em Sertãozinho, uma criança de três anos levou um tiro de um assaltante porque chorou durante um roubo. A maioria das ocorrências fica impune, restando apenas a dor de famílias destroçadas. Não se vê uma ação mais efetiva dos órgãos de segurança, algo similar ao que acontece na capital Fluminense prestes a sediar a Copa do Mundo.
A cobertura da imprensa nacional mostra que o entorno do Maracanã está se tornando um lugar seguro. Não terão a mesma sorte os moradores das favelas que ficam longe do Estádio. O Brasil precisa mostrar ao mundo que é um país sem violência explícita. O aparato policial está sendo intensamente usado para que, em 2014, o turista que visitar o Brasil possa ir com segurança do hotel para o jogo sem o risco de levar uma bala perdida.
Será que em Ribeirão Preto e nas demais cidades do Brasil não existem lugares controlados pelo crime que pudessem ser objetos de operações semelhantes? Para ter direito a uma segurança condizente é preciso ser sede ou subsede da Copa? Na prática, os órgãos de segurança só podem realizar operações em conjunto se houver um grande interesse econômico no meio?
Os teóricos de inspiração marxista escreveram, peremptoriamente, em milhares de livros que o aparato policial do Estado sempre serve aos interesses das classes dominantes em detrimento das demandas da grande maioria da população. Por séculos, essa afirmação foi contestada. No entanto, por mais de 50 anos, a população do Rio de Janeiro foi massacrada por traficantes, por crimes hediondos e por chacinas. O Estado pouco ou quase nada podia fazer “diante do poder do tráfico”. De repente, um pouco antes da bola rolar, o que parecia impossível está acontecendo. Os traficantes estão sendo expulsos dos morros do Rio de Janeiro. Isso significa que, se de fato quiser, o Estado pode oferecer um mínimo de segurança. Fica a sugestão para os prefeitos das violentas cidades brasileiras. Se for o caso, para melhorar a segurança, vale a pena bancar um campeonato importante.