A saúde em debate

A saúde em debate


Na época das campanhas eleitorais, a saúde sempre é tema consensual. Todos os candidatos apontam essa área como prioridade. Nos discursos, a solução dos problemas parece algo simples de resolver. Quando o governante assume, a situação muda de figura, a promessa fácil desaparece e os problemas se tornam insolúveis. O que antes poderia ser resolvido em poucos meses vira uma novela recheada de conflitos que deixa desprotegida uma população que precisa urgentemente de atendimento.

Esse é o quadro atual da saúde pública em Ribeirão Preto. Há menos de um mês, a cidade foi salva pelo frio e pela falta de chuva de uma avassaladora epidemia de dengue que fez 26 mil vítimas. Na rede municipal de saúde, o conflito está instaurado há um bom tempo. De um lado, médicos trabalhando em situações precárias reivindicando aumento salarial. De outro, a administração municipal tentando fazer o gerenciamento do sistema sem conseguir bons resultados para cumprir a promessa de uma saúde modelo propalada durante a campanha eleitoral. A secretária escolhida no começo desta gestão não aguentou essa pressão e saiu do cargo.

No meio dessa queda de braço, ficou a população mais carente sem acesso a programas de prevenção e à medicina privada. Diariamente, os conflitos se sucedem nos postos e nas unidades básicas de saúde com agressões, insultos e longas horas de espera. Sem conseguir encontrar soluções para a crise e pressionada por uma possível paralisação dos médicos, a Prefeitura colocou mais um ingrediente na crise ao contratar uma Organização de Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) para assumir parte do atendimento. Assim, em uma mesma Unidade Distrital de Saúde hoje coabitam profissionais da mesma categoria com regimes de contratação diferentes. Apesar dessa medida, nem as crianças escapam do caos do atendimento. Faltam médicos de quase todas as especialidades, pediatras inclusive.

Diante desse quadro assustador que há mais de um ano e meio tornou-se o principal assunto da mídia local, a Revide reuniu três especialistas no setor com passagens pela administração pública municipal e estadual para fazer um diagnóstico da crise. Na matéria de capa desta edição, Marcos Felipe de Sá, José Sebastião dos Santos e Oswaldo Franco debateram a crise, fizeram críticas ao gerenciamento do sistema e apontaram soluções.

Os médicos afirmaram que esperavam que a atual administração melhorasse as condições de trabalho dos profissionais, o que ainda não ocorreu. Na discussão, ficou evidenciado que o problema da saúde não é a falta de verbas. Pelo contrário, o município destina mais de 20% do seu vultoso orçamento, sem contar os recursos repassados pela União e pelo Estado de São Paulo.

Segundo os médicos, a solução depende de um gerenciamento mais eficiente, longe das ingerências políticas do próprio executivo ou dos vereadores. Os especialistas lembram que a cidade conta com uma expressiva participação do Estado na saúde com o Hospital das Clínicas e outros hospitais e nem assim o sistema consegue resultados satisfatórios. Também há necessidade de uma melhor capacitação dos profissionais da área, além da decisão de conceder autonomia política e administrativa para a secretaria da Saúde, uma medida que, pelo histórico desta administração e das anteriores, está muito longe de acontecer.

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