Sem clima de eleição

Sem clima de eleição

Antigamente, as eleições eram precedidas por um clima que envolvia muitas especulações sobre quem seriam os candidatos. Havia uma verdadeira bolsa de apostas para projetar as alianças, prever as dobradinhas (coligações) que seriam formadas e identificar os candidatos mais fortes a vereador. As grandes mobilizações de rua eram comuns nos períodos de campanha. Quem andava pela cidade encontrava grupos de cabos eleitorais, farta distribuição de santinhos e grupos mobilizados para defender propostas e candidatos.  O clima de eleição estava no ar. 

Na segunda década deste século, a forma de fazer política mudou radicalmente. A legislação foi modificada e as restrições aumentaram. Os tamanhos das placas e dos banners diminuíram. Sujar a cidade com santinhos depõe contra o candidato e tira voto. Os cabos eleitorais sumiram ou só aparecem nos últimos dias da eleição. O dinheiro para os gastos foi minguando e a campanha migrou para a internet. Embora o espaço on-line seja muito abrangente, a forma de abordagem na web requer um tratamento individualizado do candidato com o eleitor. Como tem a oportunidade de interagir, cobrar e questionar o candidato, o eleitor ficou empoderado, o que aumenta o trabalho do candidato que precisa se submeter a um longo e um cansativo tête-à-tête virtual. 

Embora possa parecer um campo aberto em igualdade de condições, a eleição para vereador numa cidade como Ribeirão Preto tem a forma de um funil estreito.  O número de vagas foi reduzido de 27 para 22 e mais de 50% dos atuais vereadores historicamente se reelege, pois possui uma estrutura financiada com dinheiro público para trabalhar por esse objetivo durante os quatro anos do mandato. Quem já detém um mandato leva uma grande vantagem. Contudo, isso não impede que as urnas apresentem surpresas, principalmente para vereador. Na escolha do prefeito, o eleitorado tende a ser conservador, apostando em nomes conhecidos.  

Essas mudanças na forma de contato do candidato com o eleitor esvaziou o debate político. A eleição não tem mais o apelo visual de antigamente, fator importante para chamar a atenção do eleitorado. Essa apatia lá na frente reflete no baixo comparecimento às urnas. Há meses, a pandemia do coronavírus monopoliza as atenções da opinião pública, uma questão grave de saúde pública que foi envenenada pela politização do debate. A eleição está marcada para daqui a três meses, tempo suficiente para refletir sobre a escolha do próximo prefeito e dos vereadores.

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