
Sem o clic do PC
O bem-humorado fotógrafo PC Falseti foi embora de repente, daquele jeito inesperado e trágico. PC registrou o seu legado em fotos com aquele colorido de alguém apaixonado pela profissão. Infelizmente, essa face inesperada da morte virou rotina pelas ruas, pelas avenidas e pelas estradas do país afora. PC Falseti morreu na madrugada do dia 5 de dezembro, na rodovia que liga Ribeirão Preto ao Distrito de Bonfim Paulista. Figura conhecida da imprensa local, o fotógrafo era um retrato da alegria estampada no semblante com um inconfundível sotaque interiorano. Por assim dizer, morreu trabalhando depois de fotografar um casamento. Não há como encontrar uma explicação razoável para as fatalidades. Seu Uno Mille trafegava na contramão quando bateu de frente contra outro veículo na rodovia.
Todos os dias, milhares de pessoas perdem a vida em acidentes de trânsito decorrentes da imprudência ou de um fatal acaso. O aumento das mortes no trânsito possui uma lógica. Todos os motoristas, de dia ou de noite, estão cercados em cada pedaço de rua ou de avenida. Se você dirige, tem uma alta probabilidade de topar com alguém no próximo cruzamento. A indústria brasileira nunca produziu tantos automóveis. Em meados da década de 90, as montadoras instaladas no país fabricavam 1,7 milhões de carros novos por ano. A Associação dos Fabricantes de Veículos Automotivos (Anfavea) deverá fechar este ano computando o recorde de 3,5 milhões de carros novos.
A imprudência e a irresponsabilidade aumentaram na mesma proporção. Os ases do volante são os que dirigem em alta velocidade e que passam em sinais fechados. Pais ocupados não veem que os filhos estão voltando para casa dirigindo alcoolizados em altas horas da madrugada. As pessoas ainda não perceberam que o trânsito precisa ser encarado com a mesma noção de perigo que despertam as armas de fogo.
A todo instante, histórias bonitas como a de PC Falseti ficam pelo caminho. Recentemente, um caminhão que perdeu o freio matou uma criança de seis meses em uma importante avenida da cidade. A mãe que perdeu o bebê ainda teve a bolsa furtada com os todos os documentos durante o acidente. Na madrugada de 20 de novembro, no cruzamento da avenida Francisco Junqueira com Plínio de Castro Prado, a trajetória da estudante Yasmin Lima de Brito, de 21 anos, foi interrompida. As evidências indicam que ela perdeu a vida por que um jovem motorista, de 19 anos, na companhia de uma lata de cerveja, passou apressado pelo sinal vermelho.
Os amigos contam que PC Falseti não bebia e era prudente no trânsito. Creditam a sua morte a uma fatalidade, deixando perplexos todos os que precisam lidar com as partidas inesperadas. Seguramente, uma das essências de vida está na capacidade de poder reconhecer o outro e a si mesmo. As fotos do carismático PC tinham esse harmônico clic. Serviam para aproximar pessoas naquela foto tirada na festa e tinham magia suficiente para transformar encontros efêmeros em duradouros e inesquecíveis. Na história recente da fotografia de Ribeirão Preto ficarão os registros marcantes que nem um súbito acidente de trânsito será capaz de apagar.