
Sem Respirar
As notícias dos últimos dias são estarrecedoras. O brasileiro precisa conviver com três crises: a política, a econômica e a da saúde, a pior de todas, pois traz como consequências milhares de mortes. Retroescavadeiras abrem covas em vários estados, profissionais da saúde trabalham no limite e colocam a própria vida em risco em hospitais superlotados, enquanto algumas pessoas agem como se nada estivesse acontecendo. Outros ainda encontram tempo para criar teorias estapafúrdias, espalhar notícias falsas e disseminar o ódio. No pacote da pandemia veio um montão de coisa ruim.
Se não bastasse o peso do cenário interno, do exterior ainda chegam crimes que chocam pelo grau de brutalidade, covardia e insensatez. A cena do policial americano asfixiando até a morte um cidadão negro, no meio da rua, com a conivência de mais três colegas de farda revela até aonde a crueldade da natureza humana pode chegar. Há séculos, a violência policial desmedida e o racismo explícito alimentam uma sucessão de atrocidades. O crime ocorreu nos Estados Unidos, mas não seria nenhuma surpresa se ocorresse por aqui. No Rio de Janeiro, com frequência, pessoas negras recebem uma saraivada de balas “por engano”. A cena surpreendente dos policiais americanos ajoelhados ao lado dos manifestantes, demonstrando solidariedade, revela que nem tudo está perdido.
Mesmo quem não sabe nada de inglês, agora aprendeu de um jeito trágico que “I can't breathe” significa “eu não posso respirar”. Assim como a morte de Martin Luther King há mais de 50 anos, o assassinato de George Floyd também entrou para a história mundial, simbolizando a intolerância racial que ainda campeia solta pelo mundo. O coronavírus contaminou o ar. Estamos sufocados pela discórdia, pela intolerância, pela falta de bom senso, pela irresponsabilidade, pela ignorância, pela falta de solidariedade e pela violência da natureza humana. Está mesmo difícil até para respirar.