Sem solução à vista

Sem solução à vista

A saúde se apresenta como um daqueles problemas que no caso brasileiro parece sem solução, embora se saiba que com recursos e uma gestão eficiente possa se deixar, se não todos, pelo menos a maioria dos usuários satisfeita. Tem muita gente que sai aliviada das unidades de saúde da Prefeitura de Ribeirão Preto por resolver um problema de saúde. Esse registro precisa ser feito por justiça a todos os profissionais — médicos, enfermeiros e pessoal de apoio — que, diariamente, prestam atendimento público, mesmo sem ter as condições ideais de trabalho.

Nos últimos anos, a crise que se abateu de forma permanente sobre o sistema público de saúde e transformou os próprios servidores em alvos da fúria da população que, rotineiramente, amarga longas horas de espera para ser atendida. Muitas vezes, ainda precisa perambular pelas unidades para encontrar um serviço satisfatório. Em entrevista à Revide, na edição anterior, o médico Geraldo Duarte apontou a inadequação da infraestrutura, a falta de insumos, as equipes reduzidas e os profissionais sem preparo adequado como as principais razões para o crescimento da violência nos órgãos de saúde. Nesse ponto, também se faz necessário outro contraponto para frisar que os conhecidos problemas estruturais, muitas vezes, se juntam a negligência ou a imperícia de alguns servidores.  

À luz do tempo, também se pode avaliar o comportamento das administrações. Desde que o processo de redemocratização foi retomado não houve uma eleição sequer que a saúde não figurasse como um dos principais problemas de Ribeirão Preto, uma próspera cidade do interior paulista e brasileiro com orçamento anual de aproximadamente R$ 3 bilhões. Desde a década de 80, quando houve uma relativa calmaria com a construção das Unidades Básicas e Distritais de Saúde (UBDs) e mais uma rede postos, várias administrações se sucederam sem que nenhuma conseguisse reduzir de forma significativa a insatisfação dos usuários com os serviços prestados. A demora para o agendamento de consultas, a falta de profissionais de algumas especialidades, as longas horas de espera e até mesmo a falta de médicos em unidades são problemas recorrentes que atravessam décadas.

Se as dificuldades atuais não podem ser todas debitadas a atual administração, por outro lado, o governo do prefeito Duarte Nogueira, passado um ano da posse, ainda não conseguiu dar uma resposta capaz de gerar uma melhora perceptível no sistema e diminuir as reclamações. Durante a campanha eleitoral, o prefeito prometeu exaustivamente a entrega de três Ambulatórios Especializados (AME), mas até agora não conseguiu viabilizar nem a entrega do primeiro.Não houve consenso para a instalação de uma AME no prédio do Pronto do Socorro e a terceirização da mão de obra para as distritais de saúde também foi barrada pela Câmara de Vereadores. A abertura de concurso público para repor e aumentar o quadro de funcionários da saúde esbarra nas restrições orçamentárias e na lei de responsabilidade fiscal que limita o tamanho da folha de pagamento da Prefeitura. 

Enquanto as forças vivas — leia-se Prefeitura de Ribeirão Preto, Câmara de Vereadores e prefeituras da região que integram a região metropolitana cujos moradores utilizam os serviços da rede saúde ribeirãopretana — não se entendem, a população continua sendo penalizada. Essa aparente normalidade só é quebrada quando algo trágico acontece. A última vítima foi o andarilho que morreu na porta da UBDS da Vila Tibério. Um morador gravou um vídeo mostrando que Juliano Machado, de 40 anos, ficou um bom tempo na porta da unidade sem atendimento. As reportagens demonstraram que no horário do óbito o médico que constava na escala da unidade não estava presente. 

Todos sabem dos problemas do sistema, mas quando ocorre uma morte com evidências de negligência, a questão vem à tona. Numa primeira reação, o prefeito Nogueira disse que “estavam fazendo tempestade em copo d'agua”. Na verdade, a sociedade não pode aceitar situações extremas até mesmo por razões humanitárias. Quando tem alguém caído passando mal, qualquer ser humano tem obrigação de tentar fazer algo, ainda mais se for alguém da área da saúde.  No entanto, essa realidade inaceitável permanece como um desafio a ser superado. Será que conseguiremos passar pelo menos um ano sem que ninguém morra por negligência na rede municipal de saúde? Daqui a um ano será possível ter uma melhora palpável no atendimento público de saúde? Esperemos para ver. 

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