
As sementes da leitura
A Feira do Livro de Ribeirão Preto chega a 18ª edição consolidada como um importante evento cultural da cidade. Em quase duas décadas, a exposição de livros em praça pública cercada por palestras e por eventos culturais alcançou o status de feira nacional, uma das mais importantes do país a céu aberto. Notícias que chegam de outras regiões deste Brasil da cultura cambaleante informam que a Feira do Livro de Ribeirão Preto, mantida com patrocínios públicos e privados e o trabalho voluntário de dirigentes e de colaboradores, tornou-se uma das únicas sobreviventes da sua espécie. A grande maioria dos eventos similares, que aconteciam pelo país afora, sucumbiu à longa e severa crise econômica que se arrasta por três anos. A Feira de Ribeirão Preto resiste bravamente mesmo que o orçamento atual seja 70% inferior às verbas disponíveis para a realização das edições anteriores.
Mesmo que o discurso oficial diga o contrário, quem milita na área sabe que a cultura está sempre em primeiro lugar na hora em que a tesoura começa a cortar. Apesar dessa conjuntura adversa, os ribeirãopretanos e moradores da região devem se orgulhar da Feira que possuem e valorizar o evento. Para fazer isso, não há nenhum custo muito oneroso e nem é preciso muito esforço. Basta participar de alguma atividade nos oito dias de programação, assistir a uma palestra ou show de seu interesse. Quem adquire um livro em uma das barracas ajuda a movimentar uma indústria que faz muito bem à cultura e à economia do país.
Feiras, livros, palestras são como perfumes, valem pela essência, não pela aparência. Para descobrir isso, quem passeia pelos estandes precisa abrir o olhar para encontrar alguma história, um momento de reflexão, algo que toque e modifique a sua alma. Deve fechar os olhos para alguma desventura corriqueira da infraestrutura urbana, aqueles buracos que nos perseguem ou os sinais incômodos da falta de limpeza. Apesar desses problemas, o centro é um local seguro. Hora de dar atenção às palavras, abrir espaço para os conteúdos que emanam de eventos realizados ao ar livre ou no requintado salão do Theatro Pedro II. Essa mensagem está bem explicitada no slogan que puxa a Feira deste ano: “As histórias que os livros contam e as leituras que a gente faz”.
Quem nunca foi tocado por uma história, pela poesia, por um conhecimento novo ou teve a curiosidade saciada? Nas 17 edições anteriores, a feira promoveu milhares de eventos, com palestrantes desconhecidos e famosos das mais variadas expressões artísticas, mas a semente da mudança não está na quantidade, embora ela seja importante. A transformação depende do entendimento de uma mensagem profunda capaz de colocar todos os sentidos à prova.
Ao atingir à maioridade, a Feira do livro fez história e já tem um legado. Desde o começo, a Fundação Feira do Livro almejava ampliar o número de leitores da cidade e da região. Esse objetivo maior foi alcançado conforme demonstram os dados de pesquisa recente encomendada pela Fundação e realizada pela Unaerp. A pesquisa – Perfil do Leitor Ribeirãopretano – revelou que o morador da cidade possui um volume de leitura superior à média nacional. O índice local de leitores é de 67%, enquanto que o percentual brasileiro, registrado em 2015, pela pesquisa de âmbito nacional Retratos da Leitura, foi de 56%. Sob a influência da Feira do Livro, com base na pesquisa, pode-se afirmar que hoje 2/3 dos ribeirãopretanos são leitores dos mais variados gêneros, dos romances aos livros religiosos, passando pelos didáticos e os livros de terror. Os frequentadores da Feira conseguem manter a boa média de ler um livro por mês de J. K Rowling, Clarice Lispector, José Saramago e Luis Fernando Veríssimo, entre outros autores de uma extensa lista. Para terminar, fica o convite nas palavras de alguns escritores que estarão na 18ª edição. Na visão da escritora Marina Colasanti “os seres humanos precisam narrar. Não para se distrair, mas para alimentar e estruturar o espírito, assim como a comida alimenta a estrutura do corpo”. O escritor dos adolescentes, Pedro Bandeira, se define como “um plantador de esperança” e na tradução de Alice Ruiz quem passear pela feira vai “pensar letras, sentir palavras, a alma cheia de dedos.”