A sina do Japão

A sina do Japão

A globalização internacionalizou o capital financeiro, os hábitos de consumo, o sofrimento e a solidariedade. Não há como assistir impávido às imagens das tragédias no Japão sem comoção e sem chegar a constatação de que a vida humana na Terra é tão frágil tal qual um copo de cristal. O país que dias atrás era a terceira economia mais rica do mundo, único asiático a fazer parte do G 20, de uma hora para outra, vê suas cidades importantes ficarem sem água, sem comida e com as comunicações em pane geral.

Imagens aterrorizantes mostram a fúria das águas derrubando casas e movendo carros e barcos como se fossem de papel. Para completar o cenário de destruição, a procura pelos cadáveres e uma catástrofe nuclear de proporções ainda incalculáveis que pode se transformar na maior da história.

Por que mais uma tragédia se abateu sobre o Japão? O mundo já estava esquecendo que, em 6 e 8 de agosto de 1945, os Estados Unidos cometeram uma das maiores atrocidades da história da humanidade contra uma população civil. Despejaram duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki que mataram cerca de 200 mil pessoas e que deixaram sequelas em várias gerações.

Contudo, a pergunta angustiante traz consigo uma certeza. Em um planeta cada vez mais instável, vide matéria da Veja sobre os efeitos da ebulição do Sol sobre a Terra, na edição de 9 de março, não há outra nação no mundo com capacidade, tecnologia, recursos humanos e disposição para o trabalho suficientes para se re-eguer dos escombros. O miserável Haiti, o mais pobre país das américas, precisará de alguns séculos para se recuperar da tragédia ocorrida em janeiro de 2010. Muito provavelmente, o disciplinado Japão necessitará de alguns meses para se restabelecer, haja vista a agilidade do Banco Central japonês, que poucas horas após o tsunami, liberou 183 bilhões de dólares para irrigar a economia do país com recursos para os bancos financiarem a reconstrução.

Foi assim que os japoneses deram à humanidade uma aula de desenvolvimento econômico no pós-guerra, criando a mais importante escola de administração produtiva. Escorados na filosofia do tempo certo de produção, precisamente ajustada ao tamanho da demanda, os japoneses montaram linhas de produção flexíveis que reduziram os estoques ao tamanho ideal, algo próximo de zero. Empresas como a Toyota e a Honda desenvolveram sistemas produtivos com Controle de Qualidade Total (CQT) que viraram referências mundiais.

A milenar cultura japonesa ensina, através de um filosofia denominada kaizen, que a repetição, o aperfeiçoamento e a melhoria contínua são os caminhos mais seguros para alcançar níveis de excelência. Essa persistente disciplina, mesmo diante de uma enorme adversidade, pode ser vista nas imagens de TV em que os japoneses esperam pacientemente em uma fila para conseguir água e comida, necessidades prementes que colocam qualquer ser humano em pânico. Mais uma vez a sabedoria japonesa será testada para mostrar ao mundo como se faz para renascer.

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