As teclas da despolitização

As teclas da despolitização

Estado democrático consolidado com princípios assegurados por uma constituição pluripartidária, que assegura as diversas correntes de pensamento a liberdade de participação e de manifestação política. Não estranhe, a descrição do parágrafo acima refere-se a um jovem país chamado Brasil com uma incipiente democracia. Coincidentemente, neste ano de eleições, o país comemora 21 anos de emancipação política. Em 1989, recuperamos o direito perdido de votar para presidente.

Nesse período, houve conquistas políticas inegáveis. Hoje, munido de um megafone, você pode defender em praça pública a reforma agrária ou o boicote do pagamento da dívida externa, mas se não tiver uns trocados no bolso não passará pela praça de pedágio da estrada. Sem ingenuidade, dentro dos marcos estabelecidos pelo sistema capitalista não há liberdade absoluta e os cidadãos são apartados na pirâmide social de acordo com o PIB do holerite.

O regime democrático nem sempre vigorou, outrora partidos de esquerda foram empurrados para a clandestinidade e brasileiros ilustres foram convidados a sair do país. Apesar dessa jovialidade institucional e democrática, as eleições brasileiras estão entre as mais transparentes do mundo e dificilmente algum candidato a governador ou a presidente questiona a lisura das urnas. Alguns anos atrás, havia uma arcaica contagem manual das cédulas de papel, mecanismo que possibilitava inúmeras trapaças. Este ano, o país terá mais um avanço eleitoral com a identificação biométrica do eleitor. Na região, Nuporanga será a precursora. Daqui a alguns anos, se assim quiserem os governantes, plebiscitos instantâneos poderão descobrir a vontade da maioria em relação a questões polêmicas como o sistema de governo, o aborto e a união formal de pessoas do mesmo sexo.

Quem diria, mas candidatos afoitos não podem mais tisnar praças, viadutos e prédios públicos. O avanço da legislação eleitoral chegou ao ponto de proibir as placas na grama. Pena que a cidadania e a civilidade foram esquecidas e ficaram em planos inferiores. O aperfeiçoamento do processo eleitoral, do ponto de vista legislativo e tecnológico, não condiz com o insuficiente grau de politização do eleitorado brasileiro. O cidadão (ã) comum argumenta com fluência sobre os times que disputam o Brasileirão e sobre os elencos das telenovelas, mas não sustenta o debate sobre o perfil dos políticos e dos partidos que disputam a eleição. O caro leitor (a) lembra em quem votou nas eleições proporcionais de 2006? Quem não lembra, não cobra.

Para que esse caminho se abra será necessário surgir um novo processo de conscientização dos direitos civis. Por enquanto, o voto é visto como uma abstrata obrigação ou algo vil para ser usado como moeda de troca, caso de uma parcela do eleitorado que vê na escolha dos representantes a oportunidade para realizar pequenas e grandes barganhas. Nessa estrada, a politização é a palavra chave. Na hora de teclar os números dos candidatos na cédula eletrônica, o desconhecimento, o desinteresse, a falta de compreensão, o distanciamento e a pirraça com o a própria democracia deixam o caminho livre para os espertalhões e os oportunistas que sabem tirar proveito dessa alienação coletiva para perpetuarem suas permanências no poder. Está aí o bizarro favoritismo eleitoral do Tiririca que não me deixa mentir.

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