Tomara que a maioria acerte

Tomara que a maioria acerte

Seis eleições presidenciais contadas a partir de 1989 ainda não foram suficientes para que o brasileiro encare as urnas radiante de otimismo. Quando o assunto é política ou eleição, o ceticismo tem mais eleitores do que o entusiasmo. Em Ribeirão Preto, durante toda a campanha do segundo turno, os cabos eleitorais sumiram das ruas. Dava para contar nos dedos os carros adesivados com a propaganda dos candidatos. Mesmo quem passou com o vidro abaixado pelos cruzamentos e pelas rotatórias não recebeu o santinho dos dois candidatos à presidência.

Diante da falta de empolgação em relação às eleições de outrora, uma boa parte do eleitorado parece que cumpre neste domingo uma das daquelas tantas obrigações burocráticas sem margem para muitos arroubos. Estava tudo com cara de eleição virtual sem a participação do povo na rua. Decepcionado com a infindável série de escândalos, o eleitor aprendeu a tocar a sua vida dependendo minimamente do governo. O cidadão comum e o grande empresário ficam sastisfeitos quando não são atrapalhados ou surpreendidos pela política governamental.

Desde a volta das eleições diretas para presidente, Lula foi personagem de todas as disputas. Perdeu três, ganhou duas e foi o principal personagem da eleição de 2010 mesmo não sendo candidato. Nesses 21 anos, a democracia brasileira, na escolha do seu dirigente maior, em todos os momentos, esteve entrelaçada com a figura do atual presidente. Na presente eleição, o futuro do país está interligado a um julgamento dos oito anos do governo Lula. O próprio candidato do PSDB, José Serra, enfrentou esse dilema, de ser oposição sem se posicionar frontalmente contra o governo atual.

Mas nesse segundo turno, o país perdeu uma grande oportunidade de fazer uma ampla radiografia com a apresentação de propostas para superar antigos problemas. Todas as grandes redes de TV promoveram longos debates para esclarecer o eleitorado. Mas o tempo de 20 minutos diários no rádio e na TV, em horário nobre, mais as inserções durante a programação infelizmente não foram bem aproveitados. O debate ficou abaixo de um nível mínimo exigido pela consolidada democracia brasileira. Na reta final, voaram bexigas e fita crepe na cabeça dos candidatos.

Esta eleição também será lembrada pela péssima utilização da internet. O espaço virtual tornou-se um campo fértil para a antipropaganda das calúnias, para os e-mails apócrifos e preconceituosos. Não há espaço para a ingenuidade. Quando grandes interesses estão em jogo, muito além do conhecimento e do entendimento do cidadão comum, entra em campo o vale-tudo eleitoral, a caixa-preta das campanhas presidenciais. Na reta final, até as propostas foram superfaturadas. No horário eleitoral, pipocaram bilhões para todos os lados em um grande festival de promessas sem base real. Mesmo com as imperfeições da democracia, tomara que a maioria acerte na escolha.

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