
Transparência dos resultados
A pauta da vacinação tem sido preponderante nos últimos meses, envolvendo a compra de insumos, o ritmo da aplicação e as denúncias de fraudes das pessoas que furam a fila, inventando comorbidades. Uma ruidosa Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado investiga as omissões e a demora do governo federal na compra dos imunizantes.
O Estado de São Paulo, através do Instituto Butantã, largou na frente ao buscar uma providencial parceria com a China para fabricar as vacinas em solo brasileiro. A Coronac é a vacina mais aplicada no país hoje. Feito esse justo reconhecimento também deve ser registrado que o pioneirismo na vacinação se transformou em bandeira política do governador de São Paulo João Dória na corrida presidencial. A experiência mostra que não são bons os resultados quando a política se mistura com questões relacionadas à saúde. Recentemente, o Instituto Butantã se envolveu numa polêmica desnecessária quando anunciou a ButanVac como 100% brasileira e depois foi contestado por um hospital norte-americano. O instituto acabou reconhecendo que a patente do imunizante pertencia à rede hospitalar americana.
No dia 31 de maio, foram divulgados os resultados do Projeto S em Serrana, num clima de muita euforia e pouco detalhamento técnico. Numa cerimônia permeada pelos arranjos políticos, os responsáveis pelo estudo divulgaram resultados promissores da vacina: queda de 80% nos casos sintomáticos, de 86% nas internações e de 95% no número de mortes. Em nenhum momento da entrevista coletiva, as autoridades apresentaram os números que justificam essas porcentagens. Pelo que explicaram, essas porcentagens se referem ao período de 7 de abril a 15 de maio deste ano. Na entrevista coletiva, uma jornalista cobrou da direção do Butantã o básico: a apresentação dos números que justificam resultados tão expressivos. Antes da aplicação da vacina ocorriam x óbitos e agora as mortes caíram para y. A resposta foi que os números das reduções eram “complexos e que não poderiam ser disponibilizados naquele momento e que oportunamente seriam explicitados em publicações científicas”.
Não se trata de duvidar da idoneidade de ninguém, principalmente de pesquisadores e cientistas para quem a ética e a correção são princípios inerentes a qualquer experimento que almeja à validade científica. No entanto, como as vacinas são um assunto de alto interesse público, o máximo grau de transparência se torna imperativo para que não pairem dúvidas sobre resultados e eficácia. De preferência que isso seja feito em eventos sem a corrosiva mistura entre a ciência e a política. Já a tarefa de reconhecer os que foram aliados das vacinas desde o começo ficará a cargo do eleitor/cidadão nas disputas eleitorais que se avizinham.