"Twittaram o Glavão"

"Twittaram o Glavão"

 

A torcida brasileira enfim conseguiu dividir a sua irritação com esportistas do mundo inteiro. Há muito tempo que o narrador Galvão Bueno estava entalado na garganta do telespectador brasileiro. Galvão e Faustão possuem a mesma síndrome do aumentativo “ão”, falam demais, ao mesmo tempo em que sofrem as consequências de um processo de saturação decorrente da longa exposição na TV.

Locutor oficial da TV Globo, o ufanista Galvão, das pérolas e dos clichês, narra futebol, Fórmula 1, vôlei, Olimpíadas, basquete, luta de box e até campeonato de boliche, se a Globo transmitir. Para agravar o caso, nos últimos anos, Galvão começou a sofrer os inevitáveis efeitos da senilidade, constantemente erra ou troca o nome dos jogadores, chama Michel Bastos de Michel Alves, sem falar do “quem é que sobe” ou do “bate pro gol, bate pro gol”.

Desde a Copa de 1994, a torcida brasileira não tinha como protestar contra os exageros nas transmissões esportivas. Quem optava por mudar de canal, não encontrava opções muito animadoras. A Bandeirantes, por exemplo, contratou Neto, um comentarista preconceituoso, que fala errado e que alterna comentários entre a rasgação de seda e os impropérios contra desafetos. Para quem pode pagar, as transmissões mais sóbrias estão nos canais fechados.

A rejeição a Galvão Bueno virou um “case” mundial, a partir de uma faixa estrategicamente colocada no jogo Brasil e Coreia. Até então, a Globo só mostrava aquelas faixas do oba-oba que assassinavam o português: “Galvão, filma nós”. Dizem as más línguas que os autores da armação na África foi o pessoal do pânico. Nada comprovado, mas a inusitada aparição da faixa deixou uma lição que serve para o mundo corporativo sobre o gerenciamento de crise.

Espertamente, a Globo matou a crise no peito e resolveu levar na esportiva a campanha com o ofensivo slogan “Cala Boca Galvão”. Numa decisão estratégica que deve ter passado pelos altos escalões, a emissora reconheceu a força do movimento e fugiu do confronto direto. O próprio narrador, em uma conversa descontraída e muito bem armada com o apresentador Tiago Leifert aderiu à campanha para minimizar os estragos à sua imagem. Para aliviar a tensão, recorreu à memória de um ícone do povo brasileiro, seu amigo Ayrton Senna, que o apelidara de papagaio. Assim, essa estratégia de escantear o conflito, que seria recomendada por experts em comunicação, deu certo. O cruzado de direita na imagem do apresentador foi transformado em brincadeira, uma piada, uma vez que não era mais possível ignorar a crise que havia sido noticiada no twitter, no New York Times e em importantes órgãos de comunicação do mundo inteiro.

Eis uma nova realidade provocada pelo advento das redes sociais. O descontentamento que antes não encontrava vazão, agora pode ser extravasado, fazendo com que até poderosos meios de comunicação tenham que se render ao seu impacto. No twitter, o “Cala Boca Galvão” parou no topo dos Trending Topics (TT), com 50 novos twittes por minuto, a lista dos assuntos mais comentados. No entanto, a análise dos episódios e das estratégias usadas pelos marketeiros da Globo revelam que o Galvão Bueno pode ser o maior chato de galocha da paróquia, mas de bobo ele não tem nada.

Compartilhar: