Uma lava jato no futebol

Uma lava jato no futebol

Poucos brasileiros conhecem ou já ouviram falar de um cidadão chamado Rogério Caboclo. Só quem acompanha o mundo do esporte de perto saberia que o nome citado é o do futuro presidente da mais importante entidade não governamental do país. De abril do ano que vem a abril de 2023, Rogério Caboclo, 45 anos, será o mais alto dirigente esportivo do Brasil, comandando a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), uma entidade milionária envolvida até o pescoço em fraudes e em casos de corrupção. Sem prestar contas a ninguém, esse órgão esportivo, que movimenta cifras acima de muitas estatais brasileiras, faz a gestão do futebol, a mais visível e emblemática paixão nacional. 

A dinastia no futebol brasileiro começou com João Havelange, nos anos 70, uma espécie de ditador sofisticado do esporte que presidiu a FIFA por 24 anos. Desde essa época, os dirigentes que passaram pelo comando da CBF criaram uma estrutura de poder que se perpetua por décadas. Criou-se uma verdadeira caixa-preta que permanece indevassável mesmo com a passagem do tempo. Ninguém sabe qual é o faturamento da entidade e quanto ganham seus diretores. Uma parte dessa estrutura corrupta começou a cair, não por algum movimento interno, mas por escândalos internacionais apurados pela própria FIFA com desdobramentos nos Estados Unidos. 

Um efeito dominó derrubou Ricardo Teixeira, José Maria Marin, preso nos Estados Unidos, e Marco Polo Del Nero, banido do futebol pela FIFA. Essa “plêiade” está sendo processada e pode ser presa se resolver assistir a alguma partida fora do Brasil. Rogério Caboclo é preposto dessa turma que comanda os jogos no país do futebol. Surpreendentemente, o novo mandatário foi eleito quase que por unanimidade por todos os presidentes de clubes e federações. Recebeu 135 votos de um total de 141, apenas Corinthians, Flamengo e Atlético Paranaense não endossaram a manutenção do poder situacionista.

Reportagem recente publicada pela Folha de São Paulo mostrou que a carreira esportiva fez muito bem ao futuro presidente da CBF, muito antes dele alcançar tão cobiçado cargo. Desde que assumiu a sua primeira função de dirigente da Federação Paulista de Futebol, o patrimônio pessoal de Rogério Caboclo se multiplicou. De cerca de R$ 570 mil em 2001 passou para R$ 8,6 milhões 17 anos depois. O futuro presidente da CBF se defende dizendo que o crescimento do patrimônio está de acordo com a sua renda do período. 

Processos de impeachment já depuseram presidentes, um ex-presidente foi preso recentemente, empresários e políticos corruptos estão sendo condenados pela Justiça, mas o jogo de cartas marcadas que comanda o futebol permanece intacto. Na gestão do futebol brasileiro, por ora, não há nenhum sinal de que a lava jato entrará em campo. Quando o Brasil tomou os vexatórios 7 a 1 da Alemanha, em 2014, parecia que haveria no país um movimento para mudar a estrutura do futebol, mas quatro anos depois nada de concreto aconteceu. Mais uma Copa está chegando sem nenhuma mudança significativa. 

A propósito deste tema, a Assessoria de Imprensa, Outras Palavras, comandada pela jornalista Ana Cândida Tofeti promoveu um interessante debate sobre a cobertura esportiva em ano de Copa do Mundo com a presença dos jornalistas Maurício Noriega, do Sport TV e Gilvan Ribeiro que já teve passagens pelo Diário Popular e pela Folha de SP. Um público antenado acompanhou o debate sobre uma pauta diversificada. A discussão em profundidade sobre a realidade do futebol, além da bola rolando, parece ser o caminho viável e necessário para a transformação do esporte. 

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