A cápsula dos desejos

A cápsula dos desejos

Sem os sonhos a vida fica sem graça. De certo modo, as fantasias são responsáveis por manter a esperança viva. Quando a realidade do presente apresenta suas faces mais cruéis e perversas, como um mecanismo de defesa, o olhar se volta para o que está mais distante. No Brasil e no mundo, muitas entidades e instituições estão abrindo essa janela para o futuro. Depositam na simbologia das cápsulas que conseguem viajar livremente pelas barreiras do tempo, a visão do momento atual e as esperanças de um futuro melhor.

Aproveitando o gancho do centenário de inauguração do Palácio Rio Branco, sede do governo municipal, fundado em 26 de maio de 1917, a Prefeitura de Ribeirão Preto depositou uma cápsula com jornais, revistas e mensagens das entidades locais. A urna futurista será aberta no dia 19 de junho de 2056, data em que Ribeirão Preto completará 200 anos de fundação. A cápsula foi enterrada no jardim em frente ao Palácio Rio Branco com a presença de cinco jovens alunos da rede municipal que serão as testemunhas oculares dessa longa história. 



Com uma pequena dose de subjetividade, dá para imaginar como Ribeirão Preto estará. Durante o simpático evento de marketing que reuniu políticos locais, muitas pessoas faziam cálculos e projeções sobre como a vida e a cidade estarão nessa longínqua data. Enquanto os políticos apresentavam planos grandiosos, calcados em projetos que até hoje não saíram do papel, cidadãos comuns faziam projeções mais banais de algo que gostariam de ver realizado.  Dá para vislumbrar que a região metropolitana, recentemente implantada, já será uma grande realidade. Quem transitar pela Rodovia Anhanguera provavelmente não conseguirá mais distinguir onde termina Ribeirão Preto e onde começa Cravinhos. Até lá, os governantes serão capazes de colocar em prática soluções óbvias e eficientes como a construção de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), integrando as cidades próximas como Sertãozinho, Serrana, Brodowski, Dumont e Pradópolis.

Nesse cenário futurista, provavelmente, as soluções integradas entre os municípios que fazem parte dessa região metropolitana também já serão uma realidade concreta. Não haverá mais um lixão em cada cidade, um único local será capaz de receber todo o descarte da região. Nesse centralizado depósito regional estará instalada uma grande usina de reciclagem que será capaz de reaproveitar o lixo e encaminhar para um novo processamento o que ainda tem valor. Em 2056, a escassez de água será uma realidade no mundo. Isso obrigará as pessoas a abolirem as práticas perdulárias. Pelas ruas não serão vistas aquelas cenas de desperdício com a interminável lavação de calçadas e o gasto excessivo de milhares de litros de água escorrendo pelas ruas. O Aquífero Guarani finalmente terá sua importância estratégica reconhecida, sobrepondo-se ao interesse imobiliário. Essa preocupação, junto com outras que asseguram a melhoria da qualidade de vida da população, estará consolidada em um plano diretor, exaustivamente discutido e aprovado por um consenso da maioria das forças políticas, preocupadas, exclusivamente, com a defesa do interesse da sociedade.

Quando abrirem a cápsula do tempo, no distante 19 de junho de 2056, os dirigentes e os habitantes de Ribeirão Preto encontrarão um exemplar da Revide, datado de 26 de maio de 2017. Como muito tempo já terá se passado, os moradores encontrarão uma capa de triste lembrança para a cidade. Nela consta que nesse passado bem distante um grupo de lideranças políticas, em vez de defender os interesses da sociedade, saqueou os cofres públicos. Essa, contudo, deverá ser uma realidade superada, pois a adoção dos mecanismos de transparência reduzirá os casos de corrupção, que não desparecerão completamente, mas que serão atenuados pela vigilância da sociedade. Depois de um período crítico, a sociedade aperfeiçoou as instituições que garantiram uma transição dura e penosa para um período mais estável. No entanto, até aqui, a evolução ensinou que não existe uma teoria determinista para o futuro. Assim, o cenário acima, seja em 2056 ou em outra data qualquer, só será realidade se os ribeirãopretanos de agora não fugirem de suas históricas responsabilidades. 

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