Falou demais

Falou demais

Nas eleições, um dos maiores desafios do eleitor é descobrir as reais intenções dos candidatos, conseguir distinguir quem tem propósitos claros e quem esconde a verdadeira face. Assim, como em tantas outras decisões que se toma na vida, o voto também necessita de um aprendizado pelo método dos erros e dos acertos. Muitas pessoas eleitas enganam eleitores com maestria e vendem ao eleitorado um produto emoldurado por uma embalagem falsa em que o discurso não casa com o conteúdo do produto.

Um bom exemplo dessa dicotomia entre a teoria e a prática, entre a casca e a essência,  foi o episódio tornado público pelos áudios vazados no WhatsApp das conversas com amigos do deputado Arthur do Val, também conhecido pelo apelido de Mamãe Falei. Na política já soa meio artificial quando alguém usa um recurso apelativo, para chamar atenção, que nada tem a ver com a essência do trabalho que está se propondo a fazer. O famoso Mamãe Falei se vendeu como um defensor das ideias liberais da direita conservadora. Pegou carona nas manifestações do Movimento Brasil Livre (MBL) e conseguiu 478 mil votos para deputado estadual na última eleição, dos quais 7.773 foram obtidos em Ribeirão Preto. Arthur do Val tinha planos ambiciosos na política, era pré-candidato ao governo do estado pelo Podemos. Quando os áudios vazaram na internet, demonstrando uma postura misógina, ao declarar que “as mulheres ucranianas refugiadas são mais fáceis” e outras barbaridades recebeu uma enxurrada de críticas. Pego no flagrante, de uma tacada só, renunciou da candidatura, saiu do MBL e se desfiliou do Podemos de Sérgio Moro que declarou que não dividiria o palanque com alguém que tenha essa postura. Até a namorada do deputado acha que ele falou demais e rompeu o relacionamento.  
 
Em nova manobra, para obter o perdão dos colegas da Assembleia Legislativa, declarou que nem buscaria a reeleição na tentativa de evitar uma cassação e a perda dos direitos políticos por oito anos. Mais uma vez, Arthur do Val planeja enganar a opinião pública ao tentar sair de cena sem nenhuma punição séria. Assim, apostaria no esquecimento do caso para daqui a dois anos, quem sabe, se candidatar novamente a vereador em São Paulo e retomar a carreira política, contando com a amnésia do eleitorado. Cidadãos, imprensa e opinião pública não podem esquecer esses fatos para evitar que políticos preconceituosos, travestidos de paladinos da justiça, continuem enganando o eleitorado. Eles são mestres em esconder posturas preconceituosas e machistas que não se coadunam com os novos tempos.

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