As mães do semáforo

As mães do semáforo

A desigualdade social também se materializa nas ruas e nas avenidas de Ribeirão Preto, onde há meses mães levam os filhos para os semáforos e pedem ajuda aos motoristas. Algumas seguram cartazes dizendo que estão desempregadas ou passando fome. As crianças ficam expostas ao calor, ao tempo seco e ao risco de acidente com a passagem dos carros. Também ficam exauridas e entediadas por passarem longos períodos, manhãs e tardes inteiras, debaixo de um Sol escaldante. 

O Estatuto da Criança e do Adolescente, que entrou em vigor no começo da distante década de 1990, não permite que menores fiquem expostos dessa maneira, mas entre a legislação cheia de boas intenções e a fria realidade das ruas existem diferenças abissais. Não se trata de pedir por uma ação repressiva, mas de uma intervenção social para ajudar quem precisa e principalmente zelar pela defesa dos interesses das crianças. 

Também não se trata de única e exclusivamente apontar o dedo na direção do poder público, embora este tenha uma grande parcela de responsabilidade. Sabidamente em Ribeirão Preto e na maioria das cidades brasileiras, a administração pública, abrangendo os três entes da federação, não consegue fazer frente à enorme demanda social que não tem fim e cresce a cada dia que passa. Trata-se de uma situação de responsabilidade coletiva da qual não podem fugir o poder público e os habitantes de uma cidade. Alguns, sensibilizados pela situação das mães no semáforo, doam uns trocados. Outros passam batido sem abrir o vidro ou olhar para o lado. Órgãos que poderiam tomar providências fingem que não estão vendo e deixam o tempo passar para ver se um milagre acontece.

A sociedade civil tem feito a sua parte, abraçando a assistência social através de centenas de entidades filantrópicas que prestam atendimento nas mais diversas áreas. Infelizmente, isso ainda não é o suficiente para evitar a exposição indevida de crianças e de adolescentes nas ruas da cidade. Fica esta pergunta no ar endereçada a quem possa responder: quem pode fazer algo para mudar essa triste realidade de Ribeirão Preto, uma cidade rica com o orçamento anual de mais de R$ 3 bilhões? 

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