O equilíbrio do vaivém

O equilíbrio do vaivém

O Natal e o fim de ano são momentos únicos na vida de cada ser humano e por isso são tão especiais. Aproveita-se a simbologia da data para fazer uma retrospectiva e um exercício de futurologia. Tempo de profundas transformações. Os comportamentos estão mudando, hoje vigora uma necessidade mais ativa de tomar as rédeas da própria vida em função das imposições sociais. Quem costumava andar mais devagar fica com aquela sensação que está sendo atropleado pela pressa dos acontecimentos, pela velocidade das notícias e pela necessidade de dar respostas cada vez mais rápidas e urgentes.

A avaliação do que passou e do que está por vir depende muito de cada estado de espírito. A corrupção na política salta aos olhos e talvez seja o exemplo que melhor retrate essa ambiguidade. Os brasileiros, que dão um duro danado para ganhar a vida recebendo salários não muito compensadores, terminaram este ano indignados com o que foram obrigados a assistir em 2017, mas poderia ser pior. Essas pessoas que foram flagradas poderiam estar soltas por aí, posando de gente honesta e roubando indefinidamente. Agora, suas histórias são conhecidas. Surge a perspectiva de que em 2018 as punições venham e essa limpeza continue até que a corrupção não seja algo predominante.

Esse mesmo princípio que coloca as contradições em pauta, os prós e os contras, o dualismo inquietante do pessimismo e do otimismo, esse verdadeiro vaivém entre a fé em dias melhores e o ceticismo completo, também vale para outras frentes da vida. Essa imersão na realidade incessante de movimentos contraditórios e imprevisíveis vai jogando as emoções e os sentimentos de um lado para o outro durante um ano inteiro até que a razão comedida aponte os caminhos. Mesmo com essa simbologia toda, o desenrolar da vida não pode esperar por datas especiais para que uma atitude corajosa seja tomada, mesmo que ela aponte em direção a algo desconhecido.  Há que se buscar a inspiração nos planos ou nos sonhos para fazer os primeiros movimentos que rompam a inércia. Quem não se empenha na criação de suas próprias circunstâncias pode acabar sendo totalmente dominado. Com o passar dos anos, elas se repetem em cotidianas armadilhas.

Um problema novo de 2017, que se repetirá em 2018, é o barulho enorme que há no entorno de cada um. Hoje, há uma overdose de conexão, sinais frequentes de novas mensagens, o excesso de exposição e as agendas lotadas. O cerco contra a privacidade está se fechando. As boas práticas de saúde recomendam justamente o contrário. Um pouco de isolamento, uma busca pela calma e pela tranquilidade e alguns minutos reservados para o sagrado silêncio. Quem aspira por mudanças, costuma pensar nas grandes decisões, nas atitudes mais radicais que tomou, mas os momentos mais revolucionários, as horas da vida que realmente fizeram a diferença não aconteceram na base do improviso e de atos repentinos. Foram pensadas e maturadas com discrição. São as horas em que o silêncio brotou e falou mais alto.

Por mais que a realidade mude, o equilíbrio ideal não será alcançado. As demandas nunca cessam, embora possam passar para um nível mais elevado. Na avaliação macro, a retrospectiva de 2018 não deverá ser muito diferente desta de 2017. O que pode efetivamente mudar, abstraídas as limitações impostas pela natureza econômica, é a forma com que cada um vai se transportar pelos 365 dias que estão chegando. Será aos trancos e barrancos ou com uma leveza capaz de passar por cima das dificuldades? O que pode fazer a diferença entre um ano bom ou ruim passa por esse jogo de vaivém do equilíbrio ao qual todos estão sujeitos. Prepare-se. Para o ano que vem já estão previstas tristezas, alegrias, notícias positivas e negativas, tragédias e acontecimentos espetaculares. O determinante será a forma com que cada um se predispõe a lidar com todos esses acontecimentos. Que o Natal e o Ano Novo tragam inspiração suficiente para enfrentar 2018 e que a introspecção do silêncio gere o ânimo necessário para superar as dificuldades que certamente aparecerão por esse longo e desafiador caminho. 

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