O governador gay

O governador gay

Um importante processo de transformação social se acelerou nos últimos anos com as conquistas do movimento LGBTQIA+ que luta pelos direitos e pela inclusão de diversas orientações sexuais e de identidades de gênero. Um número crescente de pessoas que viviam oprimidas, censuradas e com medo se encorajaram para assumir publicamente suas opções. Celebridades, artistas e músicos como Cazuza e Ney Matogrosso foram pioneiros e enfrentaram de peito aberto o preconceito e a discriminação.

Recentemente, esse movimento que resgata o direito elementar que cada pessoa tem de fazer suas escolhas e que deveria ser visto com naturalidade pela sociedade, ganhou mais uma adesão importante. Pela primeira vez na história, um governador de estado, no pleno exercício do mandato, assumiu publicamente a condição de homossexual. Por ironia do destino, a iniciativa coube ao governador do Rio Grande do Sul, solteiro, 36 anos, nascido em Pelotas. Ex-prefeito da sua cidade natal, Eduardo Leite é filiado ao PSDB e pré-candidato à presidência da República. Por uma longa e histórica tradição, o Rio Grande do Sul tem fama de ser um estado machista e conservador, mas as novas gerações forçam a revisão de valores e conceitos, tornando esse processo de mudança irreversível.

A revelação feita pelo governador gaúcho em entrevista ao jornalista Pedro Bial causou enorme alvoroço. Na internet, proliferaram os compartilhamentos de inúmeros áudios e vídeos de mau gosto com piadas que dão vazão ao preconceito velado e ao tratamento desrespeitoso ao ser humano, ao governador e à opção que assumiu. Também choveram críticas pelo viés da política. Eduardo Leite foi taxado de oportunista, seus adversários o acusam de buscar a simpatia do movimento LGBTQIA+ com vistas à sucessão presidencial. A eleição de 2022 ainda está distante, por ora não há nenhuma certeza de que o governador será de fato candidato. O que se pode afirmar é que sua atitude associada à importância do cargo que ocupa significa um passo importante para vencer o preconceito e a discriminação arraigados de forma estrutural no país. Eduardo Leite precisará ir além da declaração e responder ao LGBTQIA+ que cobra do governador o compromisso com as propostas do movimento e a elaboração de políticas públicas que assegurem a igualdade de tratamento. Polêmicas à parte, a consciência e a aceitação brotam desses embates que rompem com velhos preconceitos e nos dão a esperança de uma sociedade mais humana, fraterna e inclusiva.

Compartilhar: