O marketing do prefeito

O marketing do prefeito

Todos os governos, sem exceção, tentam imprimir uma marca que, no final das contas, será a forma pelo qual será visto e lembrado pela população. Trata-se de um processo semelhante ao das empresas que através de ações e de elementos visuais, tentam construir uma imagem positiva perante a opinião pública. A política está cheia de exemplos do marketing governamental que, com o passar do tempo, se consolidam numa imagem concreta ou numa representação falsa que não corresponde à realidade.



Nem é preciso ir muito longe para encontrar exemplos ilustrativos dessa antiga estratégia. A ex-prefeita Dárcy Vera, de tristes lembranças, desde os tempos em que era apresentadora de rádio e vereadora não media esforços para estreitar vínculos com as camadas populares. Para isso, forçava a barra dançando o lepo-lepo nas escolas, cantando em público e sendo marqueteira assídua nas redes sociais. Na década de 80, Nelson Edgar Ribeiro Barbosa se elegeu prefeito de Serra Azul e ganhou fama nacional fazendo campanha eleitoral a bordo de um fuscão preto. Jânio Quadros conquistou a Prefeitura de São Paulo e a presidência do Brasil desinfetando cadeiras e empunhando uma vassoura para varrer a corrupção.

A temporada deste ano foi aberta pelo tucano João Dória, em São Paulo, que madrugou no primeiro dia de trabalho, junto com o secretariado, para limpar a cidade. Às voltas com uma Prefeitura quebrada e sem perspectiva de realizar grandes obras, o prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira, está trilhando esse caminho controverso. Sofre pressão para dar respostas urgentes à população, mas todo o dia tem um incêndio novo para apagar. Nesse contexto, além de chamar a atenção, as ações de marketing resultam em duas interpretações bem distintas. Semanalmente, Nogueira tem deixado o gabinete para participar de mutirões de limpeza, capinar ruas, recolher lixo e fazer ações educativas de trânsito. Na primeira leitura, os partidários das ações do prefeito interpretam esses atos como uma demonstração de humildade, de vontade de trabalhar e de se colocar em pé de igualdade com os demais servidores da Prefeitura para resolver os graves problemas da cidade.



Por outro lado, na reprodução invertida desse marketing governamental, as atitudes do prefeito podem ser interpretadas como uma tentativa de criar os famosos factoides, ou seja, tirar proveito de situações que não fazem parte da praxe política. Uma parte do eleitorado classificará essas iniciativas como demagógicas, objetivando apenas criar uma cortina de fumaça para encobrir problemas e questões bem mais relevantes.  O que será determinante nesta polêmica será a disposição e a persistência do prefeito para realizar essas ações. Nogueira continuará varrendo a cidade e participando de ações de rua até o fim do mandato? Esta será uma marca perene e inovadora da sua administração?

Uma linha tênue separa a demagogia da atitude séria e responsável. Um velho ditado popular diz que vassoura nova varre bem. Se, de fato, for uma forma inovadora de administrar, o novo prefeito manterá esse tipo de comportamento durante os quatro anos de governo, procurando sair do gabinete para conhecer a realidade das ruas. Mesmo que a agenda esteja recheada de eventos, essa estratégia funciona por certo tempo. O marketing, sem o respaldo das ações práticas, vira uma cortina de fumaça que queima na primeira fogueira. Logo será preciso apresentar resultados efetivos a partir da eficiência do secretariado, do planejamento e do cumprimento das metas. Se aproximando dos 100 dias, o governo precisa criar uma agenda positiva consistente para reverter expectativas. Não pode apostar as fichas nas tentativas de tirar proveito de eventos rotineiros. As jogadas de efeito e a pirotecnia têm vida curta, o que conta, mesmo, são as ações de longo alcance que beneficiam parcelas representativas da população. Essas realizações são as que formam uma duradoura imagem positiva de um governo. 

Foto destaque: Foto: F L Piton
Fotos na matéria: Foto: F L Piton e Rubens Okamoto

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