Olhar introspectivo

Olhar introspectivo

Médico psiquiatra, psicoterapeuta e escritor, Augusto Cury é um dos maiores vendedores de livro do país. Contestado por alguns críticos, mas com milhões de seguidores, seus 30 livros publicados já ultrapassaram a impressionante casa dos 18 milhões exemplares somente no Brasil. Um dos seus best-sellers é o “Vendedor de Sonhos” que aborda temáticas referentes ao universo consciente do ser humano, perdas, conquistas, superação e evolução. 

Quem critica seus conceitos argumenta que as publicações propõem soluções individuais, próprias da autoajuda, em um mundo em que os problemas coletivos são cada vez maiores e desestabilizadores. As teorias da autoajuda sofrem duras críticas por oferecerem respostas simplistas para problemas complicados. Essas publicações também são contestadas pelos conceitos pseudocientíficos que podem induzir as pessoas a fazerem opções equivocadas. Uma das proposições mais difundidas sustenta que “quem acredita em si mesmo pode conquistar riqueza e saúde”.

Para qualquer cidadão comum, a superação das atuais dificuldades econômicas do Brasil, por exemplo, não se restringem só à força de vontade, à determinação e à autoconfiança. No meio desse caminho, existem barreiras sociais que, na grande maioria das vezes, impedem a ascensão e a mobilidade social.  

Analisando os argumentos do outro lado, não se pode negar que a partir de um processo de introspecção, com a ajuda dessa literatura, muitas pessoas podem melhorar o autoconhecimento, passando a lidar melhor com a ansiedade, a depressão, o estresse, a falta de autoconfiança e outros problemas pessoais. Livros podem propor soluções, se elas são fáceis ou não, se podem ou não serem aplicadas com êxito, isso depende da capacidade de adaptação de cada pessoa, levando em conta as circunstâncias e as condições socioeconômicas em que vive. No final das contas, a autoanálise em si já seria algo positivo. 

Um dos livros da extensa lista de Augusto Cury, publicado orginalmente em 2011 e republicado em 2013, faz uma abordagem sobre “A Fascinante Construção  do Eu”, no qual o autor propõe o desenvolvimento de uma mente saudável em uma sociedade estressante. A escolha do tema pode ser considerada um ponto a favor. Hoje, as pessoas têm milhões de preocupações com questões práticas, de natureza profissional ou social, mas pouco tempo reservam para o exame da sua própria intimidade e dos pensamentos que determinam o seu comportamento. O próprio tempo também está cada vez mais escasso.  

Nessa formação da própria personalidade, Augusto Cury defende um investimento na construção do próprio eu, aumentando a capacidade de autopercepção e de autoconhecimento. Afirma que se a mente não aprende a lidar com as mazelas emocionais, com o tempo, esses dissabores ficarão impregnados na memória. Os medos, por exemplo, se não forem enfrentados com galhardia, deixarão resquícios indesejáveis que podem tornar a pessoa mais receosa. À medida que os anos avançam, essas frustrações podem desencadear um humor depressivo, um desencanto com a própria vida e pensamentos injustificados de ansiedade e de irritação. 

Sem um preparo maior para lidar com as questões de natureza pessoal, o autor acredita que o indivíduo ficará aprisionado às suas próprias circunstâncias, será pela vida afora um refém das próprias emoções. No decorrer das 188 páginas do livro com formato pequeno, Augusto Cury propõe maneiras, métodos e raciocínio para que o leitor aprenda como fugir dessas armadilhas. Se, teoricamente, o mergulho no autoconhecimento seria a parte mais fácil, a partir da abertura da mente para reconhecer limitações, pensamentos equivocados, medos infundados, ideias preconcebidas, aversão a outros argumentos, a segunda parte, que envolve uma mudança de postura, possui um nível de dificuldade bem maior, intransponível para muitas pessoas.  

Depois de analisar aspectos da formação da memória, as classes de raciocínio e os tipos de pensamentos, a solução proposta pelo escritor aparece no capítulo da autoconsciência em que Augusto Cury enumera as sete funções vitais para a formação do “eu saudável”, senhor da própria história, com estrutura emocional suficiente para lidar com adversidades, sem ser subjugado por órbitas alheias, buscando um grau próprio de liberdade.

Para alcançar esse estágio, é preciso ter a capacidade de mapear-se, administrar os pensamentos, gerenciar a ansiedade, desenvolver a resiliência e saber colocar-se no lugar dos outros para desenvolver uma sociabilidade madura. O psiquiatra também considera importante pensar bem antes de agir. Resume sua teoria dizendo que “deveríamos ser caminhantes que andam no traçado do tempo em busca de si mesmos. Nada mais triste do que ser refém da história e nada tão prazeroso quanto ser um construtor de um novo tempo”.  

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