Vídeos da agressividade

Vídeos da agressividade

Com quase 120 milhões de contas, o Brasil é o segundo país no mundo em número de usuários no WhatsApp, atrás apenas da Índia. De acordo com dados do site Statista (link em inglês), 96% dos brasileiros optam pelo o WhatsApp para mandar mensagens. No ranking de usuários das redes sociais, a plataforma só fica atrás do Facebook (130 milhões de usuários) e do YouTube (127 milhões).

Esses números justificam porque desde a eleição de 2018, os políticos escolheram essa plataforma, que encaminha mensagens rápidas e com destino certeiro, para enviar o conteúdo de propaganda eleitoral. Desde que o WhatsApp e as outras plataformas passaram a ser instrumentalizadas pelos políticos, ocorreu uma verdadeira revolução na forma de fazer política no país. Infelizmente, essa mudança piorou o nível do debate político que, diga-se de passagem, nunca foi dos melhores.

Dias desses circulava um vídeo de uma sessão de uma Câmara de Vereadores não identificada. Um vereador fazia críticas agressivas a um candidato à presidência da República. Entre outros adjetivos ofensivos, o político chamava o presidenciável de “excremento”. Outro vídeo reproduzia o discurso de outro candidato a presidente, mas os cortes de edição eram tão abruptos que podiam ser vistos a olho nu, sem necessidade de um exame técnico. Nitidamente, o objetivo era distorcer o ponto de vista do candidato, tirando as declarações do contexto. Com tantos cortes, não há como julgar o mérito do discurso do candidato.

À medida que a data da eleição se aproxima, essa tática falsificadora, ofensiva e deturpada ficará mais intensa e constante. Desconstruir o discurso de alguém dá trabalho. É preciso pegar as falas na íntegra, examinar ponto a ponto as afirmações, contrapor os argumentos e fechar tudo numa conclusão que possa embasar com fundamento a discordância. Enumerar uma extensa lista de impropérios não torna o discurso mais convincente, mas infelizmente engana pessoas que não avaliam as mensagens com senso crítico. Quem parte para o xingamento, de cara, já perdeu a razão. A busca pela verdade exige análises mais profundas que demandam tempo, investigação e acesso à informação. As redes sociais preferem os conteúdos mais emocionantes aos mais reflexivos. O que agrava esse quadro de baixo nível da discussão política brasileira é constatar que muita gente que parece sensata e de bom senso compartilha sem pensar esse tipo de mensagem agressiva e deturpada. 

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