A pandemia dos carros caros

A pandemia dos carros caros

Segundo Alessandro Reis, em matéria para o UOL Carros, a disparada nos preços, o crédito mais caro e a expressiva queda no poder aquisitivo da maior parte da população afastaram a classe média do sonho de ter um veículo novo na garagem. Fiat Mobi e Renault Kwid, as opções mais baratas no mercado, custam em torno de R$ 65 mil nas respectivas versões de entrada.

 

De acordo com a Mobiauto, desde março de 2020, quando a contaminação pelo coronavírus já se alastrava pelo mundo, os carros zero ficaram 40% mais caros no País. Especialistas consultados por UOL Carros detalham os motivos pelos quais os automóveis se tornaram "produtos de rico", mesmo os modelos mais simples, e destacam que tão cedo esse cenário não irá mudar aqui no Brasil.

 

De acordo com Flavio Padovan, sócio da consultoria MRD Consulting, fatores como a escassez de microchips, que limita a produção de veículos e força os preços para cima, ainda vão persistir. O mesmo vale para a alta nas taxas de juros, que limita ou até inviabiliza eventual financiamento veicular.

 

"Esse problema com os chips já melhorou um pouco, mas irá continuar pelo menos até 2023. A guerra da Rússia contra a Ucrânia, grandes fornecedores de insumos para produtos eletrônicos, só agravou a situação", explica Padovan, ex-executivo de montadoras como Ford, Volkswagen e Jaguar Land Rover. Ele acrescenta que muitas montadoras têm priorizado modelos mais caros na hora de instalar os chips disponíveis nas fábricas, priorizando veículos que proporcionam maior margem de lucro.

 

Ricardo Bacellar, sócio fundador da Bacellar Advisory Boards e conselheiro da SAE Brasil, afirma que chamar um carro de popular no Brasil é quase "ofensivo", já que a renda média não tem acompanhado a escalada nos preços. O ex-executivo da KPMG Brasil acrescenta que, mesmo após o término dos efeitos da pandemia no mercado, o custo da produção de veículos continuará subindo.

 

"Os carros têm incorporado um volume cada vez maior de exigências regulatórias relacionadas a emissões, eficiência energética e itens de segurança. Isso requer investimentos crescentes em tecnologia e significa que o tempo do automóvel 'pelado', 'pé de boi', ficou no passado", pondera Bacellar.

 

Nicole Santana, em matéria para o Garagem 360, comenta que os carros usados, assim como os zero km, ficaram mais caros no último ano. De acordo com o Monitor de Variação de Preços da KBB Brasil, em 2021, os carros com até três anos de uso ficaram 17,22% mais caros, sendo que os carros de 2018 sofreram a maior variação: 21,14%. O setor de seminovos e usados registrou elevação no preço como consequência do mercado de 0 km.

 

Conforme já comentado, as montadoras foram impactadas, em 2021, com a escassez de componentes automotivos, o que atrasou a produção de veículos. Com pouco estoque e demanda em alta, os preços aumentaram. No entanto, nem todo interessado em comprar um carro 0 Km estava disposto a pagar mais por um modelo e ainda ter que esperar uma longa fila de espera, que passava dos três meses, de acordo com o modelo. Dessa forma, explica Santana, a saída foi optar por veículos no mercado de usados, que além da demanda normal do setor, supriu a necessidade da falta dos zero quilômetro. E, nesse caso, novamente entrou a lei da oferta e procura, com a demanda em alta, os preços subiram.

 

Para o consultor automotivo Ricardo Bacellar, entrevistado por Paula Gama para o UOL, o mercado de carros usados deve voltar à normalidade de antes da pandemia. "O primeiro fator é que os carros novos vão voltar a ser entregues normalmente, ainda que custando mais caro. Mas há algo ainda mais importante, enquanto o preço do carro usado subiu 22%, o brasileiro médio empobreceu 11%, de acordo com a Fipe. Temos um gap entre a renda das pessoas e o preço do carro. Na prática, o veículo ficou um terço mais caro", explica Bacellar.

 

Para continuar vendendo carros a todo vapor, só haverá uma saída para o mercado de usados: baixar os preços. "Em algum momento, o mercado vai precisar fazer um realinhamento de preços para continuar vendendo. Entre os carros novos não há muito espaço, porque o custo de produção continua crescendo, o que não acontece com o usado, já que o custo já foi amortizado. Não há expectativa de que a renda do brasileiro suba, então haverá desequilíbrio entre a oferta e a procura", afirma Bacellar.

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