A ascensão das mulheres superpoderosas

A ascensão das mulheres superpoderosas

Quase a metade (47) das 100 maiores empresas da América Latina não tem uma única mulher em seu Conselho de Administração, de acordo com a Corporate Women Directors International (CWDI), um grupo de pesquisa com sede em Washington, que divulgou no ano passado seu estudo sobre mulheres diretoras nas maiores empresas da região. Ao todo, as mulheres representam apenas 6,4% da diretoria das 100 maiores empresas da região, colocando a América Latina bem atrás da América do Norte (19,2%), Europa (20%) e Ásia (9,4%).

No Brasil, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) estima que apenas 7% dos conselheiros de empresas sejam mulheres, número que cairia para 4% se descontadas aquelas que possuem alguma relação familiar com os controladores das empresas. Paradoxalmente, um estudo do Peterson Institute for International Economics, divulgado em 2016, diz que ter mulheres em cargos de liderança gera mais lucro. Companhias que aumentaram a presença de mulheres em até 30% em cargos de alta hierarquia viram, em média, um crescimento de 15% em sua rentabilidade.

Para Heloisa Bedicks, superintendente geral do IBGC, o crescimento do número de mulheres em Conselhos ainda é muito lento, embora dentro de grandes empresas já exista uma conscientização maior de que os cargos de chefia precisam ser distribuídos de uma forma mais equitativa. “O que se nota é uma concentração em empresas multinacionais de trabalhos internos de empoderamento da mulher e da responsabilidade de ter mulheres ocupando cargos de liderança”, avalia Bedicks.

A administradora Ana Akemi Ikeda, professora da USP, acredita que não deve haver uma determinação sobre o papel que a mulher pode desempenhar em um Conselho. “Não existe o papel do homem e o papel da mulher nos Conselhos de Administração, e a meu ver isso é bastante positivo. Cada vez mais mulheres em todas as esferas têm obtido conquistas importantes com competência e merecimentos. Espero que as mulheres continuem a trazer grandes contribuições e lograr realizações sem precisar recorrer a argumentos relacionados a gênero”, explica Ikeda.

Alguns países adotam a prática de cotas para mulheres nos Conselhos. A Noruega é o mais emblemático deles. Em 2002, a Noruega apresentava 6,8% de mulheres em Conselhos de Administração (número semelhante ao brasileiro). Em 2003, foi aprovada uma lei estabelecendo que todas as companhias listadas em Bolsas de Valores, empresas estatais e companhias intermunicipais deveriam apresentar 40% de mulheres em seus Conselhos de Administração em até 5 anos. Tal percentual foi efetivamente atingido em 2008.

O grupo Mulheres do Brasil, liderado pela presidente do Magazine Luiza, a administradora Luiza Helena Trajano, defende a criação de uma lei federal que exija participação de 20% de executivas nas cadeiras. “Sou totalmente favorável às cotas para mulheres em Conselhos de Administração, pois acredito serem necessárias para corrigir uma distorção. Somente com cotas poderemos alcançar um patamar de participação adequado”, afirma Trajano.

Embora os avanços estejam ocorrendo lentamente, vislumbrar um mundo corporativo igualitário nos Conselhos de Administração ainda é apenas um exercício de imaginação, mas possível, segundo Ana Guimarães, coordenadora de um curso destinado a preparar mulheres para tal função, oferecido pela escola de negócios Saint Paul. “Não sei quanto tempo vai demorar para existir uma igualdade. Os estudos aqui no Brasil prevêem 60 anos. Eu acho muito, acho que está na nossa mão diminuir esse intervalo. Tem que ter mudanças de paradigmas, almejar mais posições na alta hierarquia das corporações”, finaliza Guimarães.

Fonte: Revista Administrador Profissional / Ano 39 / nº 357

 

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