CACHORRO DE DOIS DONOS MORRE DE FOME?

CACHORRO DE DOIS DONOS MORRE DE FOME?


É uma realidade cada vez mais comum nas empresas, especialmente em multinacionais, a implantação da chamada gestão matricial: quando os funcionários têm que responder e cuidar das demandas de mais de um chefe. Um lado vantajoso desse modelo é poder compartilhar a tomada de decisão. Por outro lado, pode haver conflitos de interesses e dificuldades de comunicação com a equipe.

Diante de tal realidade, é imprescindível que as empresas estejam muito bem organizadas antes de adotar tal modelo de gestão. Por exemplo, como um funcionário deverá agir quando dois chefes pedem coisas diferentes ao mesmo tempo? Para Eduardo Refkaleflky, professor da HSM, esse tipo de situação necessita de muita comunicação e diplomacia para ser resolvida. “Quando um mesmo colaborador têm vários chefes, é o caso chamado popularmente de ‘muito cacique para pouco índio’. Cabe aos chefes e colaboradores serem, antes de tudo, negociadores do tempo, das tarefas e das urgências”, comenta.

João Lins, sócio da PwC Brasil, concorda com o colega. Segundo ele, tanto os profissionais quanto as lideranças devem ter as qualificações necessárias para esse tipo de gestão, como foco em organização e planejamento. “O essencial é negociar prioridades, comunicar-se pessoal e digitalmente”, esclarece. Além disso, afirma que é necessário entender a gestão matricial como “uma tendência de futuro e, portanto, desenvolver essa capacidade de se relacionar com várias lideranças pode ser um requisito para o colaborador”.

Cabe aos gestores envolvidos saber orientar os subordinados para evitar erros, omissões ou privilégios. “Organizações modernas se estruturam tradicionalmente em linha e staff, mas também com base na autoridade funcional e em projetos e programas. Quando o funcionário tem que cumprir ordens de mais que um gestor, cria-se, por vezes, a confusão de ordens, status, poder, simpatia e demais complicadores das responsabilidades”, alerta Laerte Leite Cordeiro, do CRA-SP.

Atuar em uma empresa que adotou a gestão matricial também exige um pouco mais do colaborador. Para Lins, todos precisam de novas habilidades e competências, sejam chefes ou subordinados. Segundo ele, é muito importante que os colaboradores tenham mais autonomia na tomada de decisões para que tal modelo de gestão tenha êxito. Por isso, a gestão matricial é indicada para organizações que trabalham mais com a produção intelectual e menos em linhas de montagem, onde a descentralização de poder pode ser benéfica.
Adotando-se os cuidados necessários, pode-se concluir que a gestão matricial contraria um antigo ditado popular: cachorro de dois donos morre de fome!

Fonte: Revista Administrador Profissional / Ano 38 / nº 348

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