Os chefes dos empreendedores

Os chefes dos empreendedores

É difundida a ideia de que abrir o próprio negócio pode ser a solução perfeita para quem quer fugir do patrão e, ao mesmo tempo, ajudar a economia por meio da criação de empregos e do aumento da produção. Esse passo, no entanto, requer planejamento e cuidado para não terminar mal. Além disso, há uma linha tênue entre a realidade e a ilusão paradisíaca que pode ser projetada sobre o assunto: afinal, existe realmente vida sem chefe?

“O número de empreendedores brasileiros vem se multiplicando consideravelmente nos últimos anos e, por isso, essa atividade já representa grande relevância na economia do país”, analisa Sebastian Soares, sócio-líder de mercado empreendedor da KPMG.

A ilusão, no entanto, vem quando abolimos completamente o conceito de chefe. Na realidade, não é bem assim. “Quando você trabalha por conta própria, o seu chefe será o cliente. E ele cobra sempre quando não há a entrega do que é esperado. Você precisa criar um chefe interno para lhe cobrar sempre, impor altas metas e evitar a permanência em uma zona de conforto”, diz Marcelo Nakagawa, professor de empreendedorismo do Insper.

Segundo Jerônimo Mendes, autor do livro Manual do Empreendedor, publicado pela editora Atlas, na falta de um superior formal, os fornecedores, clientes e colaboradores serão o termômetro da atuação de quem trabalha sem um superior hierárquico. “Eles são os fornecedores de feedback do profissional. Se você não está bem, logo não fechará mais contratos, não terá mais clientes e muito menos empregados. Ser autônomo significa ser chefe de si mesmo e isso exige planejamento, persistência e amadurecimento”.

Contudo, muita gente se aventura a trilhar o próprio caminho, mas não vai muito longe por falta da consciência de que o “manda-chuva” deixou de ser aquele que dá orientações diretas e passou a ser outros indivíduos envolvidos nos negócios. “Quem não toma ciência dessa interdependência vive sob uma gestão de conflitos. Se não enxergar o colaborador como um parceiro estratégico, ele não vai apresentar todo o seu potencial na execução das tarefas, ficará restrito a normas e procedimentos para continuar sob controle. E, se bater de frente, acaba gerando mais problemas e não aproxima os parceiros”, comenta Davi Jerônimo, consultor do Sebrae SP.

A consequência da falta de direção é o comprometimento da sobrevivência da experiência da vida sem chefe. “É muito complicado largar o emprego convencional apenas para não ter chefe. Ele deveria montar um negócio por considerar válido, por ser uma oportunidade de mostrar o talento, não apenas por deixar de ter um chefe”, reforça Nakagawa.

Fonte: Revista Administrador Profissional / Ano 37 / nº 337

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