Deflação: notícia boa ou ruim?

Deflação: notícia boa ou ruim?

A inflação no Brasil foi negativa em junho, ou seja, houve uma deflação, um fato que não acontecia desde 2006. Isto significa que, em média, os preços dos produtos e serviços diminuíram. Diante desta notícia, surge uma dúvida, deflação é algo bom ou ruim? Conheça a opinião de alguns economistas entrevistados pelo site UOL.

Em um primeiro momento, a deflação é favorável para as pessoas. "Como os preços estão caindo, o poder de compra aumenta", diz Eduardo Velho, economista-chefe da consultoria INVX Global. Apesar de a deflação melhorar o poder de compra e estimular o consumo no curto prazo, deve-se ressaltar que uma deflação persistente, por um ano inteiro, por exemplo, provocaria o efeito contrário. "Deflação significa queda de preços. Se os preços estão caindo, por que eu vou comprar um carro ou uma geladeira hoje? Vou preferir esperar o preço cair mais. Isso acaba virando um ciclo vicioso", diz Alexandre Espírito Santo, professor do Ibmec-RJ e economista da Órama Investimentos.

"Uma deflação prolongada indica que a recuperação da economia não é consistente. O consumidor não se sente motivado para gastar. E as indústrias não investem porque não há demanda. Se não produzem, acabam demitindo. Isso só piora o ciclo porque você vai ter mais gente sem poder gastar", diz Eduardo Velho, da INVX Global. "O ideal é que sempre haja alguma inflação, na casa dos 2% a 3% ao ano. Essa variação é suficiente para estimular o consumo e, ao mesmo tempo, absorver oscilações sazonais de preços", afirma José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator.

"Houve uma conjunção de fatos que contribuiu para que o IPCA (índice que mede a inflação oficial) de junho viesse negativo, como a continuidade na queda dos preços dos alimentos, a mudança na bandeira tarifária de energia elétrica, de vermelha para verde, e a redução nos preços da gasolina e do etanol", afirma Gonçalves, do banco Fator.

A queda dos alimentos, por exemplo, é reflexo da safra recorde colhida pelo país no começo do ano. Há também fatores sazonais, como o clima favorável para a colheita de hortaliças, frutas e legumes, o que derruba os preços desses produtos. A conta de luz teve a mudança da bandeira tarifária de vermelha para verde no fim de maio, então não houve cobrança de taxa extra. Essa taxa é cobrada quando falta água nas hidrelétricas e o governo precisa acionar termelétricas, cuja geração de energia é mais cara. A Petrobras também ajudou na deflação, ao baixar o preço da gasolina e do diesel, contribuindo para que caísse o custo com transportes, um dos componentes mais importantes da inflação. O etanol também ficou mais barato devido ao início da safra de cana-de-açúcar.

O desemprego foi outro fator relevante porque forçou as pessoas a reduzirem o consumo. "Como as empresas e o comércio não conseguem vender produtos, são obrigadas a fazer promoções e baixar os preços para tentar atrair clientes", afirma o economista da Órama. Os economistas acreditam que a inflação oficial não voltará a ficar negativa, mas tende a ficar próxima de zero, registrando variações positivas na faixa de 0,2% a 0,3% ao mês. No acumulado do ano, a inflação deverá ficar entre os 3% e 4%, patamar que deve se repetir em 2018.

"Já sabemos que alguns fatores que provocaram a deflação de junho não vão se repetir em julho. É o caso da energia elétrica, cuja bandeira mudou para amarela neste mês", afirma Mirella, do Santander. "Mas, daqui para frente, não veremos mais grandes saltos na inflação. E uma das grandes vantagens da inflação baixa, sob controle, é que ela dá previsibilidade ao consumidor para planejar suas compras e controlar seus gastos", diz ela.

Gonçalves, da Fator, diz que o consumidor deve continuar sentindo os efeitos do recuo da inflação nos próximos meses, especialmente nos custos com moradia. "O aluguel e outros contratos que têm correção anual e são indexados a índices de inflação, como o IPCA e o IGP-M, provavelmente apresentarão reajustes muito pequenos ou até negativos na renovação deste ano".

É importante lembrar que o governo deve sempre monitorar a inflação, pois, apesar de “adormecida”, sempre há o risco de ela voltar a “acordar”. Obviamente, ninguém quer isso, principalmente aqueles que, no passado, conviveram com a hiperinflação e sentiram na pele os males que ela causa para a economia. Naquela época, no Brasil, a inflação foi associada a um dragão, pelo fato de o dragão simbolizar algo que destrói tudo, neste caso, destrói nosso poder de compra.

Fonte: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2017/07/07/e-sempre-bom-ter-inflacao-negativa-como-afeta-sua-vida-ela-vai-continuar.htm

 

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